Título: BC de Lula investiga Nossa Caixa de Alckmin
Autor: Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 14/04/2006, O País, p. 10

Banco Central pede cópia de sindicância que constatou supostas irregularidades quando tucano era governador

SÃO PAULO. O Banco Central pediu à Nossa Caixa, banco do governo de São Paulo, cópia da sindicância que confirmou a inexistência de contrato de publicidade durante 22 meses. Entre 2003 e 2005, a Nossa Caixa gastou mais de R$45 milhões em propaganda sem fazer licitação nem contrato. A informação foi dada ontem pelo próprio presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro.

Segundo Monteiro, o BC quer apurar se há fragilidade no controle do banco. Ele se disse tranqüilo em relação ao procedimento do BC. Monteiro afirmou também que, segundo decreto estadual de 1999, toda a publicidade de estatais e órgãos públicos é monitorada diretamente pela Casa Civil, através da Sicom (Secretaria de Informação e Comunicação de São Paulo).

A Sicom era dirigida por Roger Ferreira, que, semanas atrás, quando as denúncias sobre a Nossa Caixa ganharam repercussão, se demitiu do cargo afirmando que não queria causar embaraço ao ex-governador Geraldo Alckmin, hoje pré-candidato do PSDB à Presidência. Em nota, Roger havia dito que o banco é autônomo.

Monteiro também negou a acusação do ex-gerente Jaime Castro Júnior de que sabia da irregularidade de usar os recursos de publicidade sem contrato. Ontem, ele apresentou documento de novembro de 2003, em que o ex-gerente informa a uma auditoria interna que o contrato com as agências de publicidade havia sido renovado.

Em depoimento à Corregedoria da Assembléia Legislativa, Castro Júnior afirmou que só soube da irregularidade em 2004 e que, até então, acreditava que o banco havia renovado o contrato. Com o ocorrido, ele disse ter comunicado o presidente do banco. Segundo Monteiro, essa informação só foi dada por Castro Júnior depois que o ex-gerente pediu uma audiência secreta, fora da empresa, que aconteceu em 27 de junho de 2005. De acordo com Monteiro, o funcionário o encontrou muito nervoso e, chorando, contou sobre a irregularidade. Monteiro, no entanto, não sabe dizer, mesmo depois da sindicância interna, por que o contrato com as agências Colluci e Full Jazz não foi renovado ou por que não foi feita uma licitação para a contratação de outras agências.

¿ Há mentiras claras no depoimento de Jaime ao Ministério Público ¿ rebateu Monteiro, afirmando que, quando soube da irregularidade, afastou o gerente, abriu sindicância e tomou outras providências.

O presidente do banco também disse que há contradições entre os depoimentos de Castro Júnior à sindicância interna e seu depoimento anteontem ao Ministério Público. Na sindicância, o ex-gerente não acusa o presidente da estatal.

Carlos Eduardo Monteiro disse ontem que gostaria de depor ao Ministério Público, que apura o caso, assim como aos deputados da Assembléia, que tentam agendar a convocação do presidente do banco.