Título: O êxodo no rastro da violência
Autor: Laura Antunes
Fonte: O Globo, 16/04/2006, RIO, p. 18

Pesquisa revela que 51% dos cariocas deixariam o Rio por causa da falta de segurança

Mãe de duas meninas, de 2 e 9 anos, a securitária Suzana Madruga, de 42, acumula experiências traumáticas quando o assunto é violência urbana. Já foi assaltada, à mão armada, em ônibus e dentro de restaurante. Também foi vítima duas vezes de grupos de menores de rua que perambulam por Copacabana, onde mora desde que nasceu. A filha mais velha também passou pelo susto de saber que a van que a levava ao colégio, em Ipanema, mudara de itinerário às pressas por causa de um tiroteio. Tudo isso somado fez com que Suzana começasse a pensar em deixar o Rio. Desde o ano passado, mantém contatos com colegas de profissão na tentativa de conseguir um emprego no Nordeste. O desencanto de Suzana com o Rio não é uma exceção entre os cariocas. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social, realizado entre os dias 5 e 11 deste mês, mostra que 51% dos moradores do Rio, se tivessem oportunidade, mudariam de cidade por causa da violência. No estado o índice cai para 47%. A pesquisa mostra que 52% dos cariocas se consideram inseguros nos bairros onde moram, enquanto que o índice é de 43% no interior do estado. A margem de erro da pesquisa, de acordo com os coordenadores, é de apenas 2%, já que foi realizada com base nos dados do IBGE referentes à população do estado, estratificada por critérios de sexo, idade e local de residência. ¿ Nunca pensei que pudesse querer ir embora do Rio, que adoro. Certa vez, passei uma temporada nos Estados Unidos e só pensava em voltar para a minha cidade. Mas a situação agora está crítica ¿ desabafa a moradora de Copacabana, uma das entrevistadas da pesquisa do instituto.

`Acontecem cinco casos de roubo por minuto¿

No levantamento, o bairro onde vive Suzana e Caxias foram apontados como os lugares mais violentos do estado, em número de crimes relatados (por 7,4% dos entrevistados). Na terceira colocação (com 4,4%) vêm Olaria, Méier, Campo Grande, Oswaldo Cruz, Ilha do Governador, Penha e o município de Nova Iguaçu. A violência parece assustar mais os moradores da Zona Sul, pois 80% deles (contra 73% da Zona Norte e 59% da Zona Oeste) mudaram seus hábitos. ¿ Outro fato que constatamos foi que 4,63% dos habitantes do estado foram vítimas de algum crime nos últimos 30 dias, o que, levando-se em conta a população, significa 483 mil ocorrências. Em termos de roubo, foram 206 mil casos. Ou seja, acontecem cinco casos de roubo por minuto no estado ¿ afirma Geraldo Tadeu Moreira Monteiro, diretor-presidente do instituto e professor da Uerj. Apesar disso, 96% das pessoas não foram vítimas de nenhum tipo de crime, segundo a pesquisa. Foram entrevistadas, por telefone, 2.482 pessoas (54% mulheres), com mais de 16 anos, em Niterói, São Gonçalo, Rio, Baixada e 17 municípios do interior. ¿ A resposta da população comprova a percepção de insegurança dos cariocas. Muitas vezes, essa percepção nem é compatível com a incidência de ocorrências ligadas à violência, que até podem baixar. Quando isso acontece, tende a haver uma descrença em relação às instituições, como a polícia. Com isso, as pessoas buscam estratégias particulares de segurança, desde contratar segurança, instalar câmeras até evitar sair de casa ¿ afirma o cientista político João Trajano Sento-Fé, que é professor da Uerj.