Título: Presidente do PT diz que procurador-geral extrapolou
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 14/04/2006, O País, p. 12

Berzoini alega que não há provas e ainda critica a imprensa

BRASÍLIA. O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, criticou ontem, em nota, o trabalho do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que denunciou ao Supremo Tribunal Federal 40 envolvidos no escândalo do mensalão e acusou petistas de montarem uma ¿sofisticada organização criminosa¿. Apesar das evidências levantadas pelo procurador-geral e pela CPI dos Correios, Berzoini disse que Antônio Fernando extrapolou.

¿O Partido dos Trabalhadores registra o entendimento de que seu conteúdo extrapola os fatos efetivamente investigados e comprovados e repete a tese construída pelo indiciado Roberto Jefferson sobre a existência de um sistema de corrupção e aliciamento de deputados. O PT reitera que não existem elementos suficientes para comprovar as denúncias conforme arroladas pelo procurador-geral¿, diz Berzoini na nota.

O presidente do PT ainda criticou a imprensa e disse que o partido não pode ser responsabilizado. Para ele, houve a tentativa de ¿imputar as eventuais ilegalidades cometidas por membros ou dirigentes do PT à instituição partidária, o que não poderia ocorrer, salvo se tivessem sido decididas pelas instâncias do PT¿. Quatro apontados como chefes da ¿quadrilha do mensalão¿, porém, eram da cúpula do PT ou já tinham sido ¿ o ex-ministro José Dirceu, o então presidente do PT José Genoino, o então tesoureiro Delúbio Soares e o então secretário-geral Silvio Pereira.

Governistas aliviados com exclusão do nome de Lula

Apesar das críticas, o petista manteve o discurso de que a atuação do procurador, ainda que discorde do tom empregado na denúncia e da caracterização de alguns dos fatos denunciados, demonstra o pleno funcionamento das instituições democráticas.

Apesar de considerarem ¿muito duros¿ os termos usados pelo procurador-geral, integrantes da cúpula governista preferem destacar, aliviados, o fato de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi poupado, não sendo citado na ação. No Planalto há a certeza de que a oposição continuará ameaçando com o impeachment do presidente apenas como um ¿discurso eleitoral¿, na estratégia de desgastar o governo até as eleições. Mas avaliam que os adversários têm consciência de que essa proposta não tem apoio popular.

Governistas se apegam ao fato de que Lula se mantém à frente nas pesquisas de opinião, apesar de todas as denúncias. Para o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a oposição mostra desespero.

¿ Eles sabem que estão forçando a barra. Mostra uma preocupação eleitoral. Só se forem idiotas (de acreditar que é possível o impeachment) ¿ disse Chinaglia, que esteve ontem com Lula em eventos em São Paulo.

Em relação à ação do procurador, o Planalto tenta preservar Lula de todas as denúncias, mesmo com a permanência de Luiz Gushiken ¿ um dos citados ¿ à frente do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência (NAE).

¿ Evidente que há um conforto (no fato de o presidente não ser citado). Na CPI dos Correios, a oposição forçava a barra porque não havia base material para isso ¿ disse Chinaglia.

Lula ainda não está preocupado com Gushiken

A situação de Gushiken ainda não preocupa Lula, porque haveria o entendimento de que ele tem chances de se defender no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o próprio Gushiken já disse anteontem, em entrevista à rádio CBN, que o presidente deveria repensar sua situação para evitar ataques da oposição.

¿ O cargo é do presidente da República. Se ele (presidente) acha que não estou contribuindo, que até atrapalho, que vou ser usado como um álibi para fustigá-lo, até acho que seria prudente que o presidente repensasse. Mas esse é um assunto do presidente ¿ disse Gushiken.