Título: EMPRESA NACIONAL VIRA SONHO AMERICANO
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 16/04/2006, ECONOMIA, p. 28

Apaixonado pelo Brasil, executivo de Nova York pediu emprego na Vale do Rio Doce

Os amigos do americano Andrew De Simone, de 26 anos, acham ¿engraçadíssimo¿ ele falar português fluentemente e trabalhar para uma empresa brasileira. Funcionário da Companhia Vale do Rio Doce em Nova York há dois anos, o executivo correu atrás da vaga de gerente que ocupa hoje. Interessado em países emergentes e apaixonado pelo Brasil ¿ o amor veio depois de uma visita ao país em 2003 ¿ ele pesquisou 80 empresas brasileiras no consulado do Brasil em Nova York, até eleger a Vale como a companhia em que ele queria começar sua carreira profissional. ¿ Sou fascinado pela cultura brasileira. Acho o Brasil um país bem posicionado política e economicamente, que dentro de 20 ou 30 anos atingirá todo o seu potencial. E penso que a Vale é a empresa ideal para mim, porque se preocupa com o meio-ambiente e com questões sociais ¿ disse De Simone, que estudou Ciências Políticas e aprendeu português sozinho. Para entrar na Vale, o executivo escreveu uma carta para o responsável pelo escritório da mineradora em Nova York dizendo que estava interessado em trabalhar na empresa. Deu certo. E nos próximos dias ele será promovido a responsável pelo departamento de comercialização de manganês. De Simone conta que a primeira palavra que aprendeu em português foi ¿obrigado¿. Hoje, no meio da conversa, no entanto, ele já inclui o carioquíssimo ¿tipo assim¿ e diz que lê todos os dias jornais brasileiros na internet. ¿ Meus amigos acham estranho esse fascínio que tenho pelo país, já que não tenho qualquer vínculo ou parente brasileiro ¿ explica. No próximo mês, o executivo vem ao Brasil para receber um treinamento na Vale. Mas o grande sonho mesmo, segundo ele, é ficar mais tempo em terras brasileiras fazendo um mestrado e aprendendo mais sobre o país. Do outro lado do mundo está o brasileiro Yuri Eduardo Caio, engenheiro da Marcopolo. Ele, que trabalhou em Moscou no período de 1995 a 2003, está de volta à cidade participando da instalação de uma nova fábrica da empresa na Rússia. A fábrica, uma associação com a empresa russa Rusprom Auto, vai fabricar inicialmente cerca de 400 carrocerias de ônibus por ano, atingindo mil carrocerias em quatro anos. Caio conta que a nova fábrica deverá empregar cerca de 300 trabalhadores locais, que já estão sendo selecionados pela empresa. Segundo ele, os russos demonstram muito interesse em trabalhar em empresas brasileiras, como a Marcopolo, na qual buscam salários mais altos e melhores condições de trabalho. Yuri Caio tem ¿um pé¿ na Rússia, já que sua mãe é daquele país, assim como sua esposa e os dois filhos. Mas, apesar de conhecer bem a cultura local, ele conta que as relações pessoais, diferentemente do Brasil, são um pouco frias no início. O executivo da Marcopolo, no entanto, atribuiu esse jeito das pessoas ao clima, uma vez que o inverno tem temperaturas abaixo de zero por mais de seis meses no ano. ¿ No contato inicial o povo russo é fechado, mas depois de fazer amizade se torna parecido com o brasileiro ¿ ressaltou. Yuri Caio disse não ter enfrentado problemas para negociar e trabalhar com os russos. No entanto, ele fala de dois problemas naquele país: a enorme burocracia, que exige dezenas de documentos para um estrangeiro trabalhar lá, e o preconceito. Segundo ele, o racismo existe na Rússia, principalmente em relação aos negros e a outras minorias raciais. ¿ Como lá todos são brancos, é comum que negros sejam parados na rua por policiais. (Mirelle de França e Ramona Ordoñez)