Título: DIFERENTES DE TODO MUNDO
Autor: Guilherme Freitas e Dicler Simões
Fonte: O Globo, 14/04/2006, Rio, p. 14

Municípios desprezam notificações

Para minimizar a crise, os dois municípios que enfrentam uma epidemia de dengue tentam usar critérios diferentes dos adotados em todo o país em relação à doença. Em Paraty, embora tenham sido notificados desde o início do ano 1.530 casos, a coordenadora da equipe de vigilância epidemiológica, Patrícia Machado Sanches, só admite 62, confirmados por testes laboratoriais. Em Angra, onde há 3.631 notificações, o prefeito Fernando Jordão também cita apenas casos confirmados por exames. Segundo a subsecretária estadual de Saúde, Alcione Athayde, nenhuma cidade faz exames de sangue em todos os pacientes suspeitos para confirmar dengue. Elas trabalham, por orientação do Ministério da Saúde, baseadas sempre no número de notificações:

¿ Se uma região tem muitas notificações, uma amostragem alta de casos confirmados laboratorialmente, índice de infestação de mosquito acima do preconizado e uma população suscetível, não precisamos fazer exames em todos para constatar que é uma epidemia ¿ diz Alcione, citando que, de 68 testes feitos em Paraty, 59 deram positivo.

No município do Rio, com 7.025 casos desde janeiro, Meri Baran, superintendente de Vigilância e Saúde, diz que o número de notificações, e não de confirmações, norteia as ações de combate ao ¿Aedes¿:

¿ Trabalhamos com amostragem de exames. Não é viável, nem necessário, fazer testes em todos. Se você sabe que existe o vírus circulando e há os sintomas, fazemos diagnóstico clínico epidemiológico.

Alheio aos critérios brasileiros, o prefeito de Angra, Fernando Jordão, diz que a situação não é crítica:

¿ Não temos epidemia. Temos 262 casos confirmados.

O secretário de Saúde de Angra, Amílcar Caldellas, disse que, após testes, 212 casos foram confirmados e 153 descartados. Mas, segundo Meri Baran, dependendo da época em que o sangue foi coletado, uma pessoa com dengue pode apresentar sorologia negativa.