Título: AÇÕES DA EMPRESA CAÍRAM 94% NOS ÚLTIMOS 20 ANOS
Autor: Sergio Fadul
Fonte: O Globo, 16/04/2006, ECONOMIA, p. 29

No período, Ibovespa acumulou alta de 395%. Valor de mercado recuou de R$4 bi para R$100 milhões

SÃO PAULO e RIO. A crise financeira da Varig devorou o capital dos investidores que compraram ações da companhia. Segundo levantamento da consultoria Economática, o Ibovespa (índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa de Valores de São Paulo) acumula nos últimos 20 anos variação real (acima da inflação) de 395,3%. Já as ações da Varig em poder do mercado amargam no período uma queda de 94,4%. ¿ Quem aplicou cem reais em dezembro de 1986 hoje tem menos de R$6 ¿ compara o presidente da Economática, Fernando Exel. A conta considerou as operações fechadas na Bovespa de 31 de dezembro de 1986 (primeiro ano do banco de dados) até a última terça-feira, dia 11, atualizadas pelo IPCA. Exel atribuiu o mesmo valor dos papéis PN, mais líquidos, às ações ON. Proporcionalmente, a depreciação do capital dos investidores foi mais intensa nos últimos dois anos, quando os problemas da Varig se intensificaram. Uma compilação feita pela Bolsa mostra uma variação de 71,23% do Ibovespa de janeiro de 2004 até a quinta-feira, enquanto Varig ON despencou 54,27% e Varig PN, 38,58%. Segundo Exel, a desvalorização das ações reflete um quadro de sucessivos prejuízos. Considerando os últimos 20 anos, a Varig só registrou lucro em quatro deles: 1986, 1989, 1994 e 1997. A companhia ainda não divulgou o balanço fechado de 2005. Até novembro, o resultado era um prejuízo líquido de R$1,062 bilhão. ¿ A empresa tem vivido à custa de seguidos aportes de capital, corroídos pelos prejuízos ¿ afirmou ele. O analista Alexandre Garcia, da Ágora Senior Corretora, diz que uma das soluções para a empresa é a demissão de mais da metade do contingente de quase dez mil funcionários, com salários 20% a 30% superiores aos de TAM e Gol. Na última quinta-feira, representantes dos trabalhadores se comprometeram a ajudar a empresa a reduzir a folha de US$32 milhões por mês para US$15 milhões, com redução de 30% dos salários e corte de 2.900 pessoas. A marca Varig é hoje o maior ativo da companhia, diz Gilson Nunes, sócio da consultoria Brand Finance para o Brasil e o Cone Sul. A marca era estimada em R$1,197 bilhão em 2004 e, este mês, o valor caiu para R$950 milhões, conforme pesquisa da empresa. O estudo também aponta queda do valor de mercado da Varig. Segundo Nunes, há sete anos a companhia valia R$4 bilhões. Hoje, vale R$100 milhões. O presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio, Antonio Miguel, lembra que o endividamento da Varig é sete vezes maior que o patrimônio líquido. E defende uma negociação da empresa com credores como Petrobras e Infraero: ¿ Acho que o governo não pode simplesmente deixar quebrar e fechar. Mas isso não quer dizer pôr dinheiro na empresa. O advogado João Luiz Nóbrega, da Nóbrega Direito Empresarial Advogados (que tem a Varig como cliente na área tributária), diz que o governo não pode ficar totalmente fora. Isso porque, diz, a dívida da Varig foi em parte causada pelo congelamento ilegal das tarifas, há mais de 15 anos. Atualizado monetariamente, ele calcula que o valor representaria um crédito de R$4,5 bilhões.