Título: DESEMBOLSOS DO BNDES CAÍRAM 28%
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 14/04/2006, Economia, p. 22

Pedidos de empréstimos ficaram estagnados no 1º trimestre do ano

A crise no setor agrícola e mudanças nas regras de concessão de empréstimos fizeram os desembolsos do BNDES caírem 28% no primeiro trimestre do ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Foram desembolsados R$6,7 bilhões em 2006 contra R$9,4 bilhões do ano passado. O banco divulgou ontem os números do início do ano que mostraram ainda estagnação nos pedidos de empréstimos, as chamadas cartas-consulta, que aumentaram apenas 1% nos três primeiros meses de 2006:

¿ Essa queda no desembolso para nós também foi inesperada. Houve uma redução forte nas liberações para o setor de material de transporte, que caíram 80%. Acredito que a crise no setor agrícola ainda esteja prejudicando a fabricação de caminhões ¿ disse Aluysio Asti, superintendente da área de Planejamento do BNDES.

Banco espera desempenho melhor no 2º trimestre

As reduções nos juros cobrados nos financiamentos e a criação de outras linhas de crédito também foram apontadas pelo superintendente como inibidor dos desembolsos. Segundo ele, as operações de curto prazo foram adiadas para aproveitar as novas regras:

¿ Abrimos uma linha para inovação tecnológica e baixamos o spread (diferença entre o custo de captação dos recursos e os juros cobrados do tomador do empréstimo) de 3% para 2% ao ano na linhas para aumentar a capacidade produtiva ¿ explicou Asti.

Para o executivo, as empresas adiaram seus pedidos ao banco, já que as mudanças aconteceram em meados de fevereiro, buscando aproveitar as novas regras. Isso se refletiu também no pedido de empréstimos.

Mas a expectativa do BNDES é que o segundo trimestre apresente um desempenho bem melhor nas liberações. Um dos indicadores a sustentar a crença de Asti está no aumento do enquadramento (número de projetos que o banco considerou passíveis de financiamento). A alta foi de 20%, alcançando R$22,8 bilhões.

¿ O próximo passo é a aprovação do empréstimo. Portanto, com essa alta, a expectativa é que o próximo trimestre seja melhor ¿ disse o superintendente.

As aprovações de pedidos de financiamento também frustraram no primeiro trimestre. O avanço se limitou a 2%.

O aquecimento da atividade econômica, na opinião de Asti, dará novo impulso às liberações do banco. E ele se baseia nos números de produção industrial do IBGE para sustentar suas previsões de melhora.

Investimento no social consumiu apenas 3,6%

A produção de bens de capital (usados para aumentar a capacidade produtiva da indústria) aumentou 10,6%, pelo IBGE, somente em fevereiro e indica o apetite do empresariado em investir:

¿ As importações desses bens também cresceram. Isso sem contar com a queda continuada da TJLP (taxa de juros de longo prazo), que caiu recentemente para 8,15% ao ano.

O investimento no social aumentou 70% no período, mas não conseguiu chegar a 4% do valor desembolsado pelo banco no primeiro trimestre. Dos R$6,7 bilhões liberados, apenas R$246 milhões foram para a área social. Para as micro e pequenas empresas, o total liberado foi de R$883 milhões, 13% do total investido.