Título: Ahmadinejad desafia: `Morram de raiva¿
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Fonte: O Globo, 14/04/2006, O Mundo, p. 26

AIEA vai a Teerã, mas presidente insiste em enriquecer urânio

recuar ¿um milímetro sequer¿

TEERÃ

De nada adiantou a reação em bloco de EUA, Alemanha, França, Reino Unido, China e Rússia contra o anúncio do Irã de que está produzindo urânio enriquecido, usado em armas nucleares. Numa postura desafiadora, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, declarou que nada impedirá seu país de seguir em frente com seu criticado programa nuclear.

¿ Nossa resposta àqueles que estão furiosos com o fato de o Irã estar obtendo o ciclo nuclear completo é uma frase: fiquem com raiva e morram de raiva. Não vamos discutir com pessoa alguma o direito da nação (de enriquecer urânio) ¿ disse Ahmadinejad, acrescentando que seu país não recuará ¿sequer um milímetro¿ em seu objetivo de enriquecer urânio.

Horas depois da inflamada declaração, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed ElBaradei, chegou a Teerã disposto a convencer autoridades iranianas a desistirem dos planos de enriquecimento de urânio em escala industrial. Após duas horas e meia reunido com o secretário-geral do Conselho Supremo de Segurança Nacional iraniano, Ali Larijani, ele classificou o encontro de construtivo, apesar de os dois assumirem posturas claramente divergentes.

¿ O Irã deve suspender as atividades nucleares durante um determinado período, até que seja entregue o relatório ¿ disse ElBaradei, referindo-se a um relatório sobre o Irã encomendado pelo Conselho de Segurança da ONU.

Mas Larijani classificou o pedido do chefe da AIEA de irracional e inaceitável. Afirmou ainda que durante as duas semanas que restam para o relatório ser divulgado o Irã anunciará sua posição.

ElBaradei disse não poder confirmar se o Irã está produzindo urânio enriquecido a 3,5%, como informou ¿ um nível baixo, usado para abastecimento de usinas de energia nuclear. Mas durante a visita a Teerã, inspetores da AIEA colheram amostras para verificar se isto está acontecendo.

¿ Não vimos desvio de material nuclear par fins armamentistas, mas o quadro é obscuro ¿ declarou.

A China, por sua vez, informou que enviará hoje uma autoridade em controle de armas, o ministro do Exterior assistente, Cui Tiankai, ao Irã para tentar vencer o impasse e impedir uma escalada de divergências. Embora sejam considerados países que têm boas relações com o Irã, China e Rússia condenaram a iniciativa anunciada anteontem de enriquecer urânio.

Não se sabe quanto tempo o Irã demoraria para fabricar uma bomba nuclear. Isto requer o enriquecimento de urânio a um nível de 90%, o que demoraria pelo menos dois anos. O Irã diz que seus objetivos são pacíficos e que só tem tecnologia para enriquecer urânio a 3,5%. O tempo necessário para fabricar uma arma nuclear depende da capacidade de operar uma grande quantidade de centrífugas que enriquecem urânio. Especialistas afirmam que com suas atuais 164 centrífugas na usina de Natanz, Teerã demoraria 20 anos para produzir urânio altamente enriquecido suficiente para uma bomba. Mas o governo iraniano declarou ter a intenção de envolver três mil no processo até o fim do ano que vem (o que seria suficiente para produzir uma bomba em um ano) e de expandir o programa para 54 mil centrífugas.

Os EUA pressionam para que o Conselho de Segurança da ONU tome medidas enérgicas, o que significaria sanções econômicas. Embora defendam uma solução diplomática, acenam com uma opção militar, o que outros membros rejeitam. A crise se agravou em janeiro, quando Teerã anunciou a retomada das pesquisas de combustível nuclear, interrompendo negociações com a União Européia.

Nacionalistas pediram ao Parlamento iraniano que crie um novo feriado anual no país, o Dia Nacional de Energia Nuclear, que seria amanhã.