Título: NEPAL: REI ANUNCIA ELEIÇÃO EM 2007
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Fonte: O Globo, 14/04/2006, O Mundo, p. 27
Soberano cede aos protestos populares e promete restaurar a democracia
KATMANDU. Acossado por uma semana de protestos diários pró-democracia em várias cidades do Nepal ¿ uma das últimas monarquias absolutas do planeta ¿ o rei Gyanendra prometeu ontem em sua mensagem na TV pela passagem do Ano Novo hindu convocar eleições em 2007. O anúncio ocorreu ao fim do oitavo dia de manifestações em que dezenas de milhares de nepaleses enfrentaram as forças de segurança para exigir a restauração imediata da democracia ou, de forma mais radical, a proclamação da república.
No trono desde 2001, o soberano assumiu plenos poderes há 14 meses ao demitir o governo, alegando a incompetência deste para debelar a guerrilha maoísta que há dez anos luta pela derrubada da monarquia. Ontem, Gyanendra convocou os partidos a ¿um exercício significativo da democracia pluripartidária¿.
¿ Possam os esforços para assegurar a paz duradoura e uma democracia significativa dentro dos interesses da nação dar frutos no ano novo ¿ disse o monarca, um dos mais impopulares que o país já teve.
O soberano não fez menção à guerrilha, que em 2005 aliou-se à oposição numa frente política para lutar contra a monarquia. Antes do pronunciamento real, milhares de nepaleses ocuparam as ruas de várias cidades em manifestações.
¿ O povo e a polícia unidos! O rei Gyanendra à forca! ¿ gritavam manifestantes em Katmandu, numa tentativa de cooptar as forças de segurança.
A polícia investiu com cassetetes e usou balas de borracha e gás lacrimogêneo para reprimir mais de 500 advogados que participaram de outra marcha na capital: cerca de 70 foram presos e 19, feridos. A multidão tentou romper a barreira defensiva armada pelas forças de segurança e seguir rumo ao palácio real.
¿ Queremos uma república democrática onde o povo elabore as políticas, o povo faça as leis e do povo saiam os governantes ¿ discursou a ativista Mukta Shreshta, aplaudida por três mil pessoas.
Também houve protestos em Butwal e Pokhara, onde dois ativistas foram mortos a tiros por soldados do rei durante manifestações em dias anteriores. Ao todo, quatro pessoas morreram nos oito dias de confronto.