Título: RECONTAGEM DE VOTOS NA ITÁLIA ACABA AMANHÃ
Autor: Vera Gonçalves de Araujo
Fonte: O Globo, 14/04/2006, O Mundo, p. 28

Em 14 das 20 regiões, resultado confirma vitória de Prodi. Mas Berlusconi insiste em não reconhecer derrota

ROMA. A operação de recontagem do voto italiano de 9 e 10 de abril só vai terminar amanhã. São 43.028 cédulas impugnadas na votação para a Câmara dos Deputados e 33.833 para o Senado. A recontagem é feita por comissões presididas por magistrados do Tribunal de Apelação, e a proclamação definitiva será feita pelo Supremo Tribunal.

Até a noite de ontem, em 14 das 20 regiões italianas o resultado era o mesmo das eleições vencidas pela União, de centro-esquerda.

A Itália se prepara para passar a Páscoa na incerteza. Não tanto pelo resultado da votação, mas sobre quais novas invenções o primeiro-ministro Silvio Berlusconi pode cogitar para continuar sentado na sua cadeira. O chefe do governo chegou a pensar num decreto para a recontagem de todos os votos, mas o presidente da República, Carlo Ciampi, já mandou dizer que não assina.

A incerteza é sobre o novo governo. O Parlamento recém-eleito vai se reunir pela primeira vez em 28 de abril. Em 5 de maio, a eleição dos presidentes das duas casas. Uma semana depois, em 12 de maio, os parlamentares serão convocados para eleger o novo presidente da República, pois o mandato de Carlo Ciampi termina em 18 de maio. O novo presidente escolhe o novo primeiro-ministro, e Câmara e Senado, presumivelmente em fins de maio, votam a confiança. Só então o país voltará a ser governado.

A sensação de insegurança aumenta porque o derrotado Berlusconi ainda não admitiu a derrota. E já disse que o resultado das eleições ¿deve, não pode, mudar¿. O que vai acontecer nestes 40 dias, ninguém sabe.

Enquanto Berlusconi não reconhecer a vitória de Romano Prodi, até as congratulações dos chefes de Estado e de governo do exterior vão chegando em conta-gotas. George W. Bush e Bento XVI, por exemplo, ainda não felicitaram o futuro premier da Itália. O líder da União minimizou esse atraso:

¿ É uma prudência compreensível, visto que Berlusconi ainda não reconheceu a nossa vitória.

Agora é tempo de bodes expiatórios. O primeiro é o ministro para os Italianos no Mundo, Mirko Tremaglia, convencido de que o voto do exterior iria premiar a direita. Os jornalistas que freqüentam a casa de Berlusconi dizem que o líder da direita só se refere ao ministro como a ¿quel coglione di Tremaglia¿ (o imbecil do Tremaglia), perpetuando o palavrão oficial da campanha eleitoral.

No forum online sobre o voto dos italianos no mundo, organizado pelo diário ¿La Repubblica¿, a primeira mensagem vem do Brasil:

¿ Agora que tivemos um peso tão determinante será oportuno que alguns dos nossos desejos se concretizem. O primeiro é de retirar imediatamente as tropas do Iraque ¿ escreve Andrea Vicentini, de Curitiba.

O principal assunto nos bares de Roma é o que fará Berlusconi: vai se limitar a ser chefe da bancada da oposição ou vai voltar a dirigir o seu império da mídia e das finanças? Um dos boatos que correm foi lançado por um deputado europeu da Força Itália: Berlusconi pode se candidatar a prefeito de Roma, que terá eleições municipais em 28 de maio.