Título: Gringos verde-amarelos
Autor: Mirelle de França e Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 16/04/2006, Economia, p. 27

Grandes empresas brasileiras já empregam mais de 40 mil estrangeiros no mundo

Abusca por novos mercados, impulsionada pela necessidade de ter presença global para crescer num cenário competitivo, faz com que seja cada vez maior a geração de empregos de multinacionais brasileiras no exterior. Apenas as grandes companhias nacionais ¿ como Petrobras, Vale do Rio Doce e Marcopolo ¿ têm, juntas, mais de 42 mil funcionários espalhados pelos cinco continentes em, pelo menos, 48 países. Quase todos ¿ mais de 40 mil ¿ são estrangeiros recrutados nos locais onde há operações externas das empresas. Em alguns países, principalmente nos emergentes, as vagas oferecidas pelas transnacionais brasileiras são até disputadas.

¿ A Andrade Gutierrez é muito procurada por trabalhadores estrangeiros devido às suas ações sociais nos locais de atuação, como alfabetização e profissionalização. Na República Dominicana, por exemplo, há muita mão-de-obra do Haiti, onde os trabalhadores não estão acostumados a usar equipamentos de proteção, que a nossa companhia exige ¿ disse Ricardo Castanheira, diretor de Coordenação da América Latina da empresa.

Brasileiros ocupam cargos executivos

A construtora ¿ que começou no mercado internacional no início dos anos 80 ¿ tem cerca de dez mil funcionários em 13 países. Do total, 500 são brasileiros. Em Portugal, 2.500 pessoas trabalham para a Andrade Gutierrez. Segundo o executivo, os brasileiros trabalham mais nos cargos executivos e de gerência. Os estrangeiros ficam com funções ligadas à construção pesada.

¿ O número de funcionários no exterior cresceu muito. Houve desaceleração no fim dos anos 90, seguida de recuperação a partir de 2002. Este ano o faturamento da empresa no exterior deve subir 45% frente a 2005, quando foi de R$600 milhões.

A Petrobras é uma das companhias com número significativo de empregados no mundo: 17.170, dos quais 142 brasileiros expatriados. Esses números vão crescer, com a política da empresa de expandir as operações internacionais.

Dirceu Abrahão, gerente das operações da Petrobras na Colômbia, conta que o povo é alegre como o brasileiro. Lá a Petrobras tem 330 empregados diretos e outros 1.200 terceirizados.

¿ Eles vêem a Petrobras como uma empresa estrangeira, porém mais próxima do que outras petrolíferas ¿ disse Dirceu, destacando que se impressionou com o orgulho que os colombianos demonstram por trabalhar na Petrobras.

Embora a internacionalização das empresas brasileiras tenha ganhado força nos últimos anos, companhias como a Vale do Rio Doce, com perfil exportador, atuam no mercado internacional há muito tempo. A mineradora abriu no Japão seu primeiro escritório fora do Brasil, há 30 anos. Hoje, além do Brasil, está em 18 países, onde emprega cerca de 2.400 pessoas, das quais 1.700 funcionários próprios e 63 brasileiros.

¿ A Vale tem um princípio de desenvolver os empregados locais. Temos que buscar o desenvolvimento nos países onde operamos, mas também a sustentação do negócio a médio e longo prazos. E não tem como sustentar isso com pessoas da matriz ¿ disse Maria Gurgel, gerente-geral de Gestão Internacional.

A Perdigão, que exporta para mais de 110 países, começou as operações internacionais pela Itália e já está presente em seis países, com 53 empregados, dos quais 35 estrangeiros. De acordo com o diretor de Relações Humanas da empresa, Fernando Lima, em 2001 a companhia empregava apenas um estrangeiro.

¿ A empresa leva sua filosofia de gestão, mas monta equipes locais que entendem como funciona a cultura daquele país¿ explicou Lima.

UFRJ: estratégia é diversificar risco

O coordenador-geral de imigração do Ministério do Trabalho e Emprego, Paulo Sérgio de Almeida, esclarece que empresas brasileiras no exterior devem respeitar a legislação trabalhista local. No entanto, são garantidos aos brasileiros expatriados benefícios como Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

O economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio, diz que se as empresas querem se tornar multinacionais e serem mais competitivas é natural que ampliem o quadro no exterior. Já o diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, ressalta que algumas, como as de engenharia, vão para fora por dificuldades de sobreviver e crescer no Brasil.

Para Reinaldo Gonçalves, também da UFRJ, o grande contingente de funcionários reflete o volume de investimento que as companhias realizam lá fora. Ele alerta, porém, que apenas as grandes estão indo para o exterior por causa de estratégias de expansão de longo prazo.

¿ É um movimento restrito. A maioria começa a operar fora do Brasil como estratégia de diversificação de risco.

EMPRESAS BRASILEIRAS ENCANTAM CHINESES, na página 27