Título: PF indicia ex-assessor de imprensa de Palocci por quebra de sigilo do caseiro
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 18/04/2006, O País, p. 4

Relatório que aponta ex-ministro como mandante vai amanhã para a Justiça

BRASÍLIA. A Polícia Federal indiciou ontem o jornalista Marcelo Netto, que foi assessor de imprensa do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. O jornalista foi indiciado depois de depoimento ao delegado Rodrigo Carneiro Gomes, que comanda as investigações sobre a violação da conta do caseiro. Amanhã, o delegado vai enviar à Justiça Federal um relatório parcial do inquérito no qual aponta Palocci como mandante da violação e da divulgação da movimentação bancária de Francenildo.

No documento, o delegado também pede a quebra do sigilo telefônico do jornalista. O interrogatório de Marcelo Netto, o segundo desde o início das investigações, começou às 9h30m e terminou quatro horas depois. No primeiro depoimento, no último dia 5, o jornalista se a recusou a responder às perguntas sobre o vazamento das informações bancárias do caseiro. Ontem, Netto mudou de tática e resolveu falar. O jornalista negou qualquer envolvimento com a operação que resultou na quebra do sigilo bancário de Francenildo. Mas a mudança de estratégia e as explicações não convenceram o delegado.

Rodrigo Gomes indiciou Marcelo Netto no artigo 10 da Lei Complementar nº 105, que trata de crimes relacionados ao sistema financeiro. O crime pode ser punido com um a quatro anos de prisão. Embora não disponha de provas cabais, a polícia sustenta que são fortes os indícios do envolvimento do jornalista no vazamento dos dados da conta de Francenildo. Um desses indícios seria a participação de Netto numa reunião com Palocci no dia 16 de março, na casa do ex-ministro.

¿Agora que respondeu a todas as perguntas, ele é indiciado¿

Netto teria se reunido com o ex-ministro depois de Palocci receber das mãos do ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso um extrato da conta bancária de Francenildo. No dia seguinte, 17 de março, as informações sobre a conta foram divulgadas no site da revista ¿Época¿. Para reforçar essa hipótese, Rodrigo Gomes pediu a quebra do sigilo telefônico do jornalista relativo aos dias 16 e 17 de março. Uma das teses da polícia é comprovar que Netto fez contatos com jornalistas da revista nos dois dias cruciais da operação.

O advogado Eduardo Toledo ficou surpreso com a decisão da PF.

¿ Isso causa perplexidade. Quando ele (Netto) não disse nada, não foi indiciado. Agora que respondeu a todas as perguntas, é indiciado ¿ queixou-se Toledo, depois de acompanhar o depoimento do cliente.

No interrogatório, Netto citou várias vezes o nome do secretário nacional de Direito Econômico, Daniel Goldberg. O secretário se reuniu com Palocci nos dias 16 e 17 de março para falar sobre a suposta movimentação ilegal do caseiro.

Depois do interrogatório, Netto deixou a PF pela garagem do prédio e, com isso, evitou contato com a imprensa. A PF já indiciou o ex-ministro Antonio Palocci e o ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso. Palocci foi indiciado por quebra de sigilo bancário e funcional. O ex-ministro também deverá ser indiciado por prevaricação e denunciação caluniosa. Para a PF, o ex-ministro acionou a Caixa para invadir a conta, ajudou no vazamento das informações e, além disso, colaborou com uma acusação falsa sobre a movimentação bancária de Francenildo.

Mattoso é acusado de quebra de sigilo funcional e bancário. O caso também é investigado pelo Ministério Público Federal, que já pediu à Justiça a quebra do sigilo telefônico de funcionários dos ministérios da Justiça e da Fazenda.