Título: MANIFESTAÇÃO ATÉ NOS ESTADOS UNIDOS
Autor: Leticia Lins, Herliana Frazao e Luiz Fernando Roch
Fonte: O Globo, 18/04/2006, O País, p. 9

No Pará, cinco mil pessoas participam de ato que lembrou o massacre

WASHINGTON e BELÉM. Eles eram poucos, mas determinados. Nada mais do que 33 pessoas. Caminhando sob a chuva, cada uma delas carregando uma cruz branca com o nome de uma vítima do massacre de Eldorado do Carajás, elas marcharam ontem até a embaixada do Brasil na capital americana para entregar uma carta endereçada ao presidente Lula solicitando o fim da impunidade para os criminosos.

¿Nós estamos enormemente preocupados com a impunidade resultante deste caso e os exíguos esforços para se implementar a reforma agrária conforme manda a Constituição do Brasil¿, dizia a carta assinada por 18 entidades defensoras dos direitos humanos, além de 22 parentes da irmã Dorothy Stang (assassinada um ano atrás no Pará) e outras 67 pessoas.

¿ Somos poucos, mas nossa convicção é forte. Marchamos hoje levando em nosso coração as vítimas daquele massacre bárbaro e medieval. Vamos mostrar aos brasileiros que nos importamos com eles ¿ disse o americano Miguel Carter, professor da American University e organizador da marcha dos Amigos do MST.

O grupo percorreu dois quilômetros até a embaixada agitando as bandeiras do MST e do Brasil. ¿Queremos justiça agora!¿, gritavam. O embaixador Roberto Abdenur recebeu os manifestantes e prometeu enviar a carta a Lula.

No Pará, o MST realizou uma manifestação na Praça da República, no centro de Belém, pedindo a federalização do caso.

¿ Temos dois condenados soltos e 156 policiais absolvidos. Queremos um julgamento longe da pressão dos latifundiários daqui ¿ disse Ulisses Manacás, do MST.

O coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, afirmou que há uma central de impunidade no estado.

¿ Ninguém foi condenado de verdade até agora.

Em Belém, houve apresentações musicais, missa ao ar livre e 19 cruzes foram enterradas num gramado para lembrar as vítimas. Os manifestantes, cerca de cinco mil, entregaram ao governador relatório com o balanço das mortes no campo, dez anos depois do conflito. A Curva do S, na PA-150, entre Curionópolis e Eldorado do Carajás, foi bloqueada às 10h por 19 minutos, lembrando a morte dos 19 sem-terra. Às 17h, sob chuva forte, a rodovia voltou a ser fechada para lembrar a hora em que teve início o conflito.

O presidente do Incra, Holf Hackbart, participou do ato e ouviu o pedido de desapropriação das fazendas Peruano, Rio Vermelho e Cabaceira, onde há conflitos.

* Correspondente