Título: POLICIAIS LIGADOS A CAÇA-NÍQUEIS NÃO SÃO PUNIDOS
Autor: Sérgio Ramalho
Fonte: O Globo, 18/04/2006, Rio, p. 12

Segundo delegado, 20 indiciados no inquérito que investiga guerra na Zona Oeste continuam em suas corporações

Apontado em inquéritos como um dos principais integrantes da segurança de Rogério Costa de Andrade Silva, de 43 anos, o sargento Antônio Carlos Macedo concilia o trabalho na contravenção com a função no Corpo de Bombeiros. Indiciado por formação de quadrilha e acusado de matar o técnico em eletrônica Sérgio Maciel de Carvalho, em setembro de 2001, o sargento não foi expulso da corporação. Situação semelhante à da maioria dos policiais militares e civis suspeitos de pertencer às escoltas de Rogério e seu rival, Fernando de Miranda Iggnácio, de 41 anos, como O GLOBO noticiou no sábado.

Responsável pelo inquérito 057/04, que investiga a guerra pelo controle dos caça-níqueis na Zona Oeste, o delegado Milton Olivier, da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco), confirma que os 20 policiais indiciados continuam em suas instituições:

¿ Alguns estão afastados das funções, respondem a sindicâncias, mas ninguém foi expulso.

Para Olivier, o caso do sargento é um exemplo. O bombeiro é suspeito de participação em vários assassinatos, conforme dados da Subsecretaria de Segurança e Inteligência (SSI). Entre as supostas vítimas de Macedo estaria o técnico em eletrônica Sérgio Maciel, morto com seis tiros em frente de casa, em Bangu. O crime foi testemunhado pelo irmão, Sílvio Maciel de Carvalho, advogado de Fernando Iggnácio.

Apesar da gravidade das acusações, o sargento não teve a prisão decretada e continua integrando os quadros do Corpo de Bombeiros. Macedo não é o único sem punição entre os citados por suspeita de ligação com Rogério Andrade e Fernando Iggnácio, respectivamente sobrinho e genro do bicheiro Castor de Andrade.

Filmado entre 14 PMs que acompanhavam a instalação de máquinas da Oeste Rio Games ¿ empresa de Rogério Andrade ¿ numa padaria em Bangu, o tenente-coronel Ricardo Teixeira de Campos, de 39 anos, figura entre os indiciados por formação de quadrilha e envolvimento com a contravenção no inquérito da Draco. Os indícios, no entanto, não impediram o oficial de participar de um curso nos Estados Unidos, em dezembro.

Parte do Curso Superior da Polícia, a viagem de 13 dias garantiu ao tenente-coronel US$150 em diárias, que totalizaram US$1.950 (R$4.290) para visitas às cidades de Nova York e Miami. Atualmente, o oficial está lotado na Diretoria Geral de Pessoal (DGP). Em depoimento na Draco, o policial negou ligação com a máfia dos caça-níqueis. Ele argumentou ter parado na padaria para aguardar um conserto em seu carro.

A impunidade não é privilégio dos suspeitos de integrar a segurança de Rogério Andrade. Dos 34 policiais militares listados como beneficiários do grupo de Fernando Iggnácio, nenhum foi expulso da PM. O livro com anotações da caixinha do contraventor foi apreendido em 2002 na sede da Adult Fifty Games, em Bangu.

Os nomes dos policiais foram enviados à Corregedoria Geral da PM, que instaurou inquérito policial-militar para apurar o caso. No fim das investigações, alguns policiais foram transferidos para outros batalhões, mas ninguém foi expulso. No caso dos oficiais, as punições são ainda mais raras.

Citados como responsáveis pela escolta de Fernando Iggnácio em patrulhas do 14º BPM (Bangu), um capitão e um tenente ficaram livres de punição por falta de provas. De acordo com dados da SSI, os dois oficiais alternavam o serviço para garantir proteção ao genro de Castor de Andrade na saída da Adult Fifty.