Título: TELEMAR NAS MÃOS DO MERCADO
Autor: Mirelle de França e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 18/04/2006, Economia, p. 19

Empresa propõe pulverização do controle acionário entre investidores

Adiretoria da Telemar propôs ontem uma reestruturação societária da companhia, por meio da pulverização de suas ações no mercado de capitais. Na prática, a companhia deixaria de ter um bloco controlador forte e os papéis da empresa seriam distribuídos para um número maior de investidores. Com a mudança ¿ que ainda precisa ser aprovada pelos controladores, pelos acionistas minoritários e pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) ¿ todos os seis tipos de ações da empresa hoje negociados em Bolsa seriam reunidos em apenas uma empresa, a Telemar Participações S.A.

Os controladores deverão se desfazer de 9% a 15% de sua participação. Mas a reestruturação acontecerá apenas se as ações chegarem a uma determinada cotação no mercado. Por um cálculo divulgado ontem, os preços teriam de equivaler a um valor entre R$2,69 e R$2,98 por ação da nova empresa.

Finalizada a operação, haverá mudanças importantes na gestão da nova empresa. O poder de voto dos atuais controladores será limitado a 10% do capital, mesmo se sua participação for superior. Caso algum investidor queira deter mais de 20% da empresa, terá que fazer uma oferta pública para comprar todas as outras ações no mercado. Já as decisões estratégicas da empresa serão determinadas por um Conselho de Administração composto de, no mínimo, 11 membros. O investidor ou grupo de investidores com mais de 10% poderá indicar um nome para este conselho. Uma fonte ligada à reestruturação acredita que o novo conselho manterá basicamente os atuais dirigentes.

Operação deverá valorizar a empresa

O presidente da Oi (braço de telefonia celular do grupo Telemar), Luiz Eduardo Falco, disse ontem que a proposta transformará a Telemar na maior empresa de capital pulverizado da América Latina. No Brasil, já optaram pela pulverização Embraer, Perdigão e Lojas Renner. Falco explicou que, caso haja a reestruturação, o capital da Telemar será composto apenas por ações ordinárias (com direito a voto), que passarão a ser negociadas no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e na Bolsa de Valores de Nova York.

¿ A proposta vai gerar mais valor para a companhia e permitirá uma nova fase de crescimento para a Telemar. Com a valorização da empresa, conseqüentemente vai melhorar nossa capacidade de captação de recursos ¿ disse Falco, responsável pela coordenação da operação de pulverização.

A operação é complexa e dividida em várias etapas. Primeiro, será necessária a aprovação dos controladores ¿ entre eles o BNDES, a Andrade Gutierrez, a La Fonte, o Opportunity e fundos de pensão ¿ e da Anatel. Simultaneamente, os acionistas da Tele Norte Leste Participações (TNL) precisam consentir a incorporação de suas ações pela Telemar Participações (TmarPart), que pertence aos controladores. Paralelamente, os acionistas que têm papéis preferenciais da Telemar Norte Leste (Tmar) poderão converter suas ações em ordinárias da mesma empresa, que, então, migrariam para a TmarPart. O minoritário, neste caso, não é obrigado a converter suas ações e poderá resgatá-las pelo preço de mercado ou pelo valor nominal, o que for maior.

A estimativa da empresa é de que toda a operação deverá estar concluída ate o fim de julho. Ontem de manhã, o presidente da Telemar, Ronaldo Iabrudi, foi à Anatel explicar a operação. Quando receber o pedido de anuência prévia, a Anatel analisará o processo e enviará seu parecer ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

O mercado ficou dividido. Se, por um lado, a reestruturação simplifica a estrutura societária e garante aos minoritários maior proteção (já que todas ações passarão a ter direito a voto), por outro, analistas destacam como negativa a imposição de um valor para as ações. Gustavo Alcantara, analista da Mercatto Gestão de Recursos, vê como negativa a operação:

¿ A empresa quer criar um preço artificial para suas ações. Isso pode criar um precedente perigoso.

Ele diz que os donos de ações preferenciais da Tele Norte Leste Participações, que hoje detêm 54,6% da companhia, passarão a ter apenas 36% da nova empresa. Já os detentores de ações ordinárias, que hoje têm 12,7% do negócio, passarão a ter 22% do total.