Título: Para eleitor ver
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 19/04/2006, O GLOBO, p. 2

A oposição desfralda novamente a bandeira do impeachment do presidente Lula. Aposta na denúncia do procurador-geral Antônio Fernando como vento novo capaz de agitá-la diante das massas indiferentes. A oposição sabe que não há tempo nem condições políticas para o impeachment mas investe no desgaste eleitoral que a iniciativa pode causar ao candidato Lula.

Mesmo sabendo que o pedido de impeachment não terá conseqüências, a oposição acha que pode auferir dois tipos de dividendos eleitorais. Apontando Lula como chefe da ¿organização criminosa¿ mencionada pelo procurador-geral, espera demover aqueles que, mesmo desiludidos, ainda encontram no desempenho do governo razões para votar em Lula. Depois, deixando claro que o impeachment poderá vir mesmo com Lula reeleito, espera desestimular seus eleitores, induzindo a raciocínios sobre o proveito do voto. Afinal, para quê votar em quem pode ser impedido de governar? Melhor votar logo em outro... Não é à toa que a oposição vive lembrando o caso de Nixon, que enfrentou as primeiras denúncias antes de ser reeleito e só depois, já no segundo mandato, diante da iminência do impeachment, renunciou.

O PFL voltou do feriado da Páscoa pregando o impeachment pela boca do senador Antonio Carlos Magalhães. Mas esta não é uma posição oficial do PFL, garantem outros dirigentes. Sem apoio nas ruas, a proposta poderia se voltar contra a oposição. Nem é a do PSDB, embora haja também tucanos falando no assunto. Ontem foi o PPS que fez declaração solene de apoio à iniciativa. Mas é tudo para impressionar o eleitor.

A não ser, ressalvam todos, que surja um fato novo determinante. Por exemplo, uma segunda denúncia do procurador-geral Antonio Fernando responsabilizando o presidente pelos crimes que apontou na primeira. Uma nova denúncia haverá mas fontes do Ministério Público já fizeram saber, inclusive ao governo, que o procurador não dispõe de elementos para acusar o presidente. As informações sugerem que a nova denúncia pode alcançar outros parlamentares (cujos assessores, segundo lista encaminhada pela CPI dos Correios, teriam recebido recursos do Banco Rural ou de corretoras) e agentes econômicos ligados ao valerioduto, como o BMG e o Grupo Opportunity.

O tema do impeachment foi examinado pela coordenação de governo na reunião de segunda-feira e a avaliação feita ali é a que está sendo difundida pelo ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro: ¿uma manobra da oposição para esquentar o clima eleitoral¿.

A denúncia do Ministério Público também foi examinada. Foi tida como exuberante na descrição mas pobre em matéria de provas. Algumas falhas foram apontadas, como o não arrolamento do ex-diretor de Furnas, Dimas Toledo, de quem o ex-deputado Roberto Jefferson disse ter recebido R$75 mil em ajuda eleitoral não declarada.

Mas por ora, a oposição seguirá brandindo o impeachment como assombração para assustar eleitores. Muito arrependida de não ter feito isso para valer em agosto do ano passado.