Título: OAB informa a Lula que discute impeachment
Autor:
Fonte: O Globo, 19/04/2006, O País, p. 8

Tarso Genro diz que proposta é fruto do clima eleitoral e que impedimento seria um atentado à democracia

BRASÍLIA. Um eventual pedido de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a ser tema de discussões políticas ontem. Em conversa com Lula, no Planalto, o presidente da OAB, Roberto Busato, tratou da reunião do Conselho Federal da entidade para discutir a proposta de impeachment, marcada para dia 8. Busato disse ao presidente que a OAB não servirá de palanque eleitoral nem para seus aliados nem para adversários.

Em outra reunião, o PPS discutiu a proposta e divulgou nota defendendo o impeachment de Lula com base na denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, contra 40 pessoas envolvidas no esquema do mensalão.

¿ Eu disse ao presidente da República que a Ordem agirá dentro da sua tradição histórica de fazer política, mas não se atrelará à política partidária, seja de que lado for. Não seremos palanque eleitoral, seja para os partidos que apóiam o presidente, seja para os que lhe fazem oposição ¿ disse Busato.

Busato diz que análise da OAB será jurídica

O relatório propondo impeachment será apresentado pelo advogado Sérgio Ferraz, integrante da subcomissão da OAB que analisou as denúncias envolvendo o presidente e assessores. Busato não opinou sobre o pedido de impeachment e disse que a análise será jurídica:

¿ Como presidente da Ordem, absolutamente estou empenhado seja para a instituição votar a favor do impeachment ou contra. Neste momento me cabe presidir o Conselho.

Segundo Busato, Lula abordou a crise política e reclamou das CPIs:

¿ O presidente entende que as CPIs não foram justas com ele, pois abriram muito o leque e o foco das investigações.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, afirmou que a proposta de impeachment do presidente é fruto do clima eleitoral. Para ele, o impedimento seria uma aventura e um atentado à democracia.

¿ Nós do governo recebemos como um movimento dentro do ano eleitoral, mas não tem nenhuma possibilidade de prosperar. Seria estranho e degradante para a política brasileira que se tentasse a aventura do impedimento de um presidente que tem acolhimento de quase 60% da população. Seria um atentado ao processo político democrático.

Ministro da Justiça falará na CCJ e não no plenário

O governo conseguiu ontem, em acordo com líderes partidários, mudar o depoimento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, do plenário da Câmara dos Deputados para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O Planalto queria evitar uma grande exposição do ministro numa sessão aberta no plenário, com perguntas de centenas de deputados. Pelo acordo, Bastos dará explicações, na manhã da quinta-feira, sobre sua participação no episódio da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.

Mas a oposição no Senado não descartou a possibilidade de Bastos falar lá também, posteriormente. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e líderes partidários decidiram aguardar o depoimento do ministro na Câmara antes de apreciar o requerimento da oposição.