Título: Escalada de recordes
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Fonte: O Globo, 19/04/2006, Economia, p. 21

Petróleo atinge novo patamar histórico, com Brent a US$72,51, por temor de conflito no Irã

LONDRES, NOVA YORK e RIO

Otemor de um confronto entre Estados Unidos e Irã levou os preços do petróleo a novos recordes ontem, pelo segundo dia consecutivo, com o barril do tipo Brent fechando acima de US$72. A curto prazo, os analistas não vêem uma mudança de cenário, pois o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou que o país não abrirá mão de seu programa nuclear ¿ cujo uso ele garante ser pacífico ¿ nem teme um possível ataque americano.

Em Londres, o barril do tipo Brent (referência internacional) fechou em alta de 1,5%, a US$72,51. Este é o maior patamar desde que a Bolsa Intercontinental de Futuros (ICE, na sigla em inglês) começou suas operações, em 1988. Durante o pregão, a cotação chegou a US$72,64. Foi o terceiro pregão consecutivo de recordes.

Na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex, na sigla em inglês), o barril do tipo leve americano subiu 1,4%, para US$71,35, também um recorde histórico.

Para Tobias Merath, analista do Crédit Suisse, o Irã ainda é a principal causa da alta do preço do petróleo, apesar de os ataques de rebeldes na Nigéria também afetarem a produção global. Merath disse à agência de notícias Market Watch que o barril ficará entre US$65 e US$72 pelos próximos três meses e estima um teto de US$75.

¿ Se perdermos as exportações do Irã, de cerca de dois milhões de barris diários, não conseguiremos repor esse desfalque ¿ disse à Bloomberg News Frank Verrastro, diretor do programa de energia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington. ¿ Não há capacidade excedente, então os consumidores não querem gastar suas reservas.

Phil Flynn, analista e vice-presidente da Alaron Trading, lembra que, além de não haver capacidade de produção excedente, pesa a crescente demanda da China por combustíveis.

Outro problema é que as refinarias no Golfo do México ainda não se recuperaram totalmente dos estragos causados pelo furacão Katrina, no fim de agosto do ano passado. Segundo Verrastro, a perda diária é de um milhão de barris.

Os preços dobraram desde 1979, quando a revolução iraniana reduziu as exportações de petróleo do país. Em 1981, as refinarias americanas pagavam em média US$35 o barril, segundo dados do Departamento de Energia, o equivalente a US$78 a preços corrigidos.

A Petrobras prefere não comentar as recentes altas do petróleo. O presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli, tem dito que a estatal continua com sua política de manter os preços dos combustíveis no mercado interno atrelados às cotações internacionais, porém a longo prazo. Segundo Gabrielli, a companhia não pretende repassar a volatilidade atual para o mercado interno. Essa política é inclusive considerada uma das vantagens de o país atingir a auto-suficiência na produção do petróleo, que será anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no próximo dia 21. Por isso, ninguém acredita que a Petrobras vá reajustar a curto prazo os preços dos combustíveis ¿ o último aumento foi em setembro de 2005.

O economista Tharcisio de Souza Santos, professor da Fundação Armando Álvares Penteado, não acredita que o petróleo volte à faixa dos US$50 o barril, porque a oferta está igual ao consumo, ou seja, não há excedente no mercado.

¿ E os países que podem elevar a produção estão justamente na faixa de conflito ¿ disse Santos, que não acredita que a Petrobras reajuste os preços agora.

Em um cenário otimista, o professor estima que os preços internacionais do petróleo fiquem em torno de US$60 até 2008, podendo chegar a US$90 em um cenário pessimista.

A gasolina vendida pela Petrobras está em torno de 15% mais barata, e o óleo diesel, 11%, em comparação aos preços internacionais. A defasagem só não é maior, segundo alguns especialistas, devido à desvalorização do dólar.

COLABOROU Ramona Ordoñez

NOVA AMEAÇA AMERICANA, na página 28

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