Título: FMI VAI MUDAR REGRAS PARA JUSTIFICAR EXISTÊNCIA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 19/04/2006, Economia, p. 25

Diretor-gerente submeterá propostas, algumas polêmicas, em reunião que começa hoje

WASHINGTON. Diante da constatação de que o Fundo Monetário Internacional (FMI) cada dia mais perde a sua razão de ser, o seu diretor-gerente, Rodrigo de Rato, vai propor, na reunião semestral conjunta com o Banco Mundial, que começa hoje, uma drástica reforma. Só assim, disse ele, a instituição manterá a sua legitimidade.

Segundo Rato, depois de um longo debate interno considerando sugestões externas, concluiu-se que é imperativo que o Fundo permaneça relevante. E, por isso, estão sobre a mesa propostas ¿que vão do evolucionário ao revolucionário¿:

¿ A globalização está mudando as regras do jogo e apresentando novas circunstâncias, como o papel cada dia mais importante dos mercados financeiros privados. E elas afetam tanto a macroeconomia quanto a reação do Fundo.

¿A cultura do Fundo precisa mudar para colocar as questões financeiras e do mercado de capitais no coração de sua análise macroeconômica nos países em desenvolvimento¿, diz um trecho do documento de 31 páginas que Rato entregará aos ministros dos 184 países que participarão da reunião.

As propostas vão desde formas inusitadas de financiamento, passando pela redistribuição de cotas do FMI para refletir o peso real de cada país na economia mundial, até procedimentos rotineiros.

A mais ousada, e que certamente causará polêmica, prevê a criação de uma espécie de cooperativa de países com bom nível de reservas. Elas integrariam um fundo especial para socorrer os governos com problemas de financiamento. Seriam cooperativas regionais ou formadas por grupos de países de continentes distintos.

Rato quer ver mudanças também no trabalho de fiscalização do FMI. Além de análises menos complicadas, os técnicos deverão ouvir não só as autoridades de um país, mas também a população, e elaborar relatórios mais enxutos.