Título: DÓLAR CAI E BOLSA BATE RECORDE POR JURO DOS EUA
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 19/04/2006, Economia, p. 25

Moeda fecha a R$2,118, perto da mínima do ano, e Bovespa sobe 2,89%. BC volta ao mercado de câmbio futuro hoje

A possibilidade de que os juros americanos parem de subir em breve levou forte otimismo ontem ao mercado financeiro brasileiro. A indicação, feita na ata da primeira reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sob o comando do novo presidente, Ben Bernanke, levou o dólar para perto da mínima do ano e fez a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrar novo recorde em pontos: subiu 2,89%, para 39.572 pontos. O risco-Brasil, indicador da confiança dos investidores estrangeiros no país, recuou 3,76%, para 230 pontos centesimais.

Os membros do Fed avaliaram, na ata da reunião dos dias 27 e 28 de março, divulgada ontem, que, apesar dos riscos inflacionários, o ciclo de aperto monetário pode estar próximo do fim:

¿A maioria dos membros sentiu que o fim do processo de aperto provavelmente está perto, e alguns expressaram preocupação quanto aos perigos de um aperto muito forte, dada a defasagem dos efeitos da política (monetária)¿.

Juros muito altos nos Estados Unidos, país considerado sem risco pelo mercado, atrairiam capital antes aplicado em nações emergentes, vistas como mais arriscadas. Sem essa perspectiva, o dólar encerrou os negócios cotado a R$2,118, em queda de 0,84%. Na mínima do ano, registrada em 16 de março, a moeda americana chegou a valer R$2,110, cotação que não era alcançada desde 2001. No início da noite, o Banco Central (BC) anunciou a retomada, hoje, dos leilões de swap cambial reverso, após um jejum de um mês e meio.

A operação, que funciona como uma compra de dólares no mercado futuro de câmbio, foi suspensa pelo BC em 7 de março. Hoje, o BC ofertará 12.850 contratos de swap, com vencimentos entre dezembro de 2006 e janeiro de 2009, o que corresponde a US$642,5 milhões. Ontem, a autoridade monetária já havia comprado dólares à vista, por R$2,132.

Para Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset, a retomada dos leilões tem como objetivo amortecer a forte tendência de queda do dólar, especialmente após a ata do banco central dos EUA e a forte alta na cotação das commodities.

¿ As commodities metálicas subiram 22% entre a última reunião do Copom e a atual, que termina hoje. Isso tende a manter a balança comercial forte, garantindo assim a valorização do real ¿ pondera.

Analistas criticam reestruturação da Telemar

Póvoa lembra que há US$1 bilhão em swaps que vencem no dia 2 de maio. Se o BC não fizesse o leilão de hoje, os investidores que detêm os títulos teriam de vendê-los no mercado, o que tenderia a empurrar a cotação do dólar para patamares mais baixos que os atuais.

¿ Se esse dinheiro entrasse no mercado, a cotação do dólar ia ladeira abaixo. Mesmo com a volta do BC aos swaps, acredito que a tendência é que a moeda volte a se aproximar dos R$2 ¿ diz Póvoa.

Na Bovespa, após subirem 27,7% ontem, com o anúncio da pulverização do controle acionário, as ações ordinárias (isto é, com direito a voto) da Telemar caíram 0,42%.

Para Ricardo Silva, analista da Itaú Corretora, a operação é negativa. Os controladores estabeleceram que as ações precisam atingir um determinado preço ¿ muito acima do atual, de R$2,69 para os papéis da nova empresa ¿ para que a reestruturação seja concluída. Porém, para o analista, o valor deve ficar em cerca de R$2,16.

¿A nova Telemar não será um investimento interessante. Os valores de uma empresa na Bolsa vêm de sua geração de caixa, não da pura percepção (dos controladores)¿, disse em relatório enviado a clientes.