Título: RUMSFELD REAGE A CRÍTICAS DE GENERAIS
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Fonte: O Globo, 19/04/2006, O Mundo, p. 28

Secretário diz que ninguém é indispensável, mas acrescenta que continua no governo

WASHINGTON. Animado com mais uma forte manifestação de apoio recebida do presidente George W. Bush, o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, afirmou ontem que ninguém é indispensável no governo, mas acrescentou que não está pensando em renunciar, em meio a duras críticas recebidas de alguns generais reformados.

Arquiteto da cada vez mais impopular guerra no Iraque, Rumsfeld foi acusado semana passada por seis generais reformados de desconsiderar advertências militares, atuar por meio de intimidação e cometer erros estratégicos. Eles pediram sua renúncia. Ontem, o secretário declarou:

¿ O presidente sabe, como eu sei, que não há homens indispensáveis. Cemitérios do mundo estão cheios de pessoas indispensáveis.

Quando lhe perguntaram se é arrogante e autocrático como dizem aqueles que o criticam, ele respondeu, em seu habitual estilo brusco:

¿ Vocês me conhecem.

Em 2004, em meio ao escândalo das torturas de iraquianos por soldados americanos na prisão de Abu Ghraib, Rumsfeld ofereceu duas vezes sua renúncia a Bush, que não a aceitou. Mas ontem ele afirmou que não está considerando essa possibilidade agora para aliviar o fardo sobre os ombros do presidente e dos republicanos durante a eleição legislativa deste ano.

¿ Ele (Bush) sabe que eu estou a sua disposição, e isso basta.

Quando lhe perguntaram por que ofereceu sua renúncia depois do escândalo de Abu Ghraib e agora não, ele reagiu:

¿ Ah, chame isso simplesmente de idiossincrasia.

Numa cerimônia na Casa Branca, Bush elogiou Rumsfeld, como já fizera sexta-feira, em comunicado.

¿ Don Rumsfeld está fazendo um bom trabalho ¿ disse. ¿ Está não apenas transformando as Forças Armadas, está lutando uma guerra contra o terror. Está nos ajudando a lutar uma guerra contra o terror. Tenho uma forte confiança em Don Rumsfeld.

Referindo-se às críticas ao secretário, o presidente afirmou:

¿ Eu ouço as vozes. E eu li a primeira página. E eu sei da especulação. Mas sou eu quem decide. E eu decido o que é melhor. E o que é melhor é Don Rumsfeld permanecer como secretário de Defesa.

Já Rumsfeld deixou claro que duvida dos relatos sobre ampla insatisfação nas Forças Armadas com sua liderança. Ao seu lado, o general do Corpo de Fuzileiros Navais Peter Pace, chefe do Estado Maior Conjunto, disse não ver qualquer descontentamento entre os militares. Segundo ele, altos oficiais têm amplas oportunidades para expressar suas opiniões aos líderes civis do Pentágono.

¿ Há múltiplas oportunidades para todos nós, de pormos nossas opiniões sobre a mesa, quaisquer que elas sejam. E todas as opiniões são postas sobre a mesa ¿ disse ele. ¿ Mas no fim do dia, depois de darmos nossa melhor assessoria militar, alguém tem que tomar uma decisão. E quando uma decisão é tomada pelo secretário de Defesa, a não ser que seja ilegal ou imoral, nós cumprimos o que nos disseram para fazer.

Brincando, Rumsfeld comentou em seguida:

¿ Nem sequer sugira isso, ilegal ou imoral.

Procurando conter as controvérsias surgidas em torno de seu trabalho, o secretário também se reuniu com mais de dez generais reformados que trabalham como comentaristas em empresas de notícias.