Título: NOVA AMEAÇA AMERICANA
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Fonte: O Globo, 19/04/2006, O Mundo, p. 28

Bush não descarta ataque nuclear ao Irã, que se diz pronto para qualquer agressão

TEERÃ, WASHINGTON e MOSCOU

Enquanto o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, transformava ontem um desfile militar anual em Teerã numa demonstração de força diante da ameaça de um ataque americano, o presidente George W. Bush não descartou a possibilidade de um ataque nuclear a seu país. Quando um repórter lhe perguntou em Washington se suas opções para impedir o programa nuclear iraniano incluiriam planos para um ataque nuclear, Bush respondeu:

¿ Todas as opções estão sobre a mesa.

A mesma frase costumava ser usada pelo presidente quando lhe perguntavam sobre uma ação militar no Iraque, antes da guerra. Mas ontem ele acrescentou que sua intenção é ¿resolver esse assunto diplomaticamente¿ e que o governo está ¿trabalhando duro para isso¿. A melhor maneira de agir, afirmou, é com um esforço conjunto de países que reconhecem o perigo de o Irã ter uma arma nuclear.

¿ Por isso estamos trabalhando muito estreitamente com países como França, Alemanha e Reino Unido ¿ afirmou.

Irã promete `cortar mãos¿ de agressores

Bush disse que esta semana discutirá as ambições nucleares do Irã com o presidente da China, Hu Jintao, que chegou ontem aos EUA.

Em Moscou, numa reunião dos vice-ministros do Exterior dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, China, França, Rússia e Reino Unido) e da Alemanha para discutir o programa nuclear iraniano, os EUA pressionaram para que se adotem medidas firmes contra o Irã, inclusive o congelamento de recursos iranianos no estrangeiro e a restrição de viagens ao exterior. Mas afirmaram não estar interessados num embargo à indústria petrolífera iraniana para evitar dificuldades para o povo do país que é o quarto maior exportador de petróleo no mundo.

Antes de o encontro terminar ¿ sem que se chegasse a um acordo ¿ o porta-voz do Ministério do Exterior iraniano, Reza Asefi, declarou:

¿ Qualquer que seja o resultado dessa reunião, o Irã não abandonará seu direito (à tecnologia nuclear).

Rússia e China se opõem a sanções e ao uso da força contra o Irã e, como membros permanentes do Conselho de Segurança, têm poder de veto sobre qualquer decisão.

No desfile militar do Dia das Forças Armadas iranianas, o presidente Ahmadinejad saudou milhares de soldados que marcharam diante dele em meio a tanques, mísseis, torpedos e submarinos, enquanto helicópteros e aviões cruzavam o céu. Pouco antes do desfile, Ahmadinejad declarou que o Exército está pronto para defender a nação de um ataque:

¿ Hoje, o Exército do Irã é um dos mais poderosos do mundo e poderosamente defenderá as fronteiras políticas do país e a nação. Cortará as mãos de qualquer agressor e fará qualquer agressor se arrepender.

No desfile, o Irã não apresentou seu míssil de mais longo alcance, o Shahab-3, que afirma poder atingir alvos a dois mil quilômetros de distância, o que poria em risco Israel e bases americanas no Golfo Pérsico. Segundo analistas, grande parte das armas iranianas é obsoleta, mas suas forças poderiam interromper a rota de petroleiros no Golfo.

No fim do mês, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) deverá entregar um relatório sobre as atividades nucleares do Irã ao Conselho de Segurança, para que este estude a adoção de medidas. Desafiando uma determinação da ONU, o Irã anunciou semana passada que está produzindo urânio enriquecido, usado como combustível nuclear. Mas continua negando ter ambições armamentistas e se dispondo a colaborar com a AIEA.

Semana passada, a agência disse não ter sido capaz de verificar se o programa iraniano é puramente civil. Seus inspetores deverão voltar ao Irã sexta-feira para visitar instalações nucleares, inclusive a usina de Natanz, onde Teerã diz ter enriquecido urânio para produção de energia.