Título: DELEGADO DE RIBEIRÃO PRETO DEVE OUVIR EX-MINISTRO EM BRASÍLIA SEMANA QUE VEM
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 20/04/2006, O País, p. 10

Palocci terá de depor sobre suposto esquema de corrupção na cidade

RIBEIRÃO PRETO (SP). O advogado José Roberto Batochio, que representa o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, esteve ontem em Ribeirão Preto para se reunir com o delegado seccional Benedito Antônio Valencise. Os dois acertaram que o depoimento de Palocci deve ocorrer na próxima semana, na quarta ou na quinta-feira, num departamento da Polícia Civil em Brasília.

¿ Não decidimos o local, mas em hipótese alguma vou ouvi-lo em casa. Vou fazer o interrogatório e o indiciamento em uma unidade policial de Brasília. Vou ser acompanhado do doutor Daniel de Angelis, do Ministério Público Estadual ¿ disse Valencise.

De acordo com o delegado, Palocci pode ser indiciado por crimes de formação de quadrilha, corrupção, peculato e falsidade ideológica.

Batochio, depois de conversar com o delegado, analisou os 74 volumes, de 15.800 páginas no total, do inquérito que apura o suposto superfaturamento na varrição de lixo em Ribeirão Preto durante a gestão de Palocci na prefeitura da cidade (2001 a 2002).

Levantamento feito pela Polícia Civil mostra que as irregularidades podem ter causado prejuízos de até R$30 milhões aos cofres públicos, ou R$636 mil mensais.

Valencise diz que chegou a este valor depois de cruzar notas fiscais emitidas pelo Daerp e pela empreiteira Leão & Leão, empresa responsável pela limpeza pública da cidade.

As supostas irregularidades foram cometidas entre 2001 e 2004, período em que Ribeirão Preto foi administrada por Palocci (2001 a 2002) e por seu sucessor Gilberto Maggioni (2002 a 2004).

¿Não existe nada que comprometa o Palocci¿

Segundo depoimento do advogado Rogério Tadeu Buratti, ex-assessor de Palocci, o esquema permitia que a empresa Leão & Leão pagasse propina de R$50 mil aos prefeitos. O dinheiro era enviado ao diretório do PT em São Paulo.

A primeira pessoa indiciada por Valencise no inquérito foi a engenheira Luciana Muscelli Alecrim, que foi diretora técnica do Daerp (Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto). Ela era subordinada a Isabel Bordini, que, segundo Valencise, determinava que ela fizesse a falsificação de ordens de serviço.

Isabel Bordini foi superintendente do Daerp entre 2001 e 2004. Em depoimento à Polícia Civil, em fevereiro deste ano, o advogado Rogério Tadeu Buratti afirmou que Isabel obedecia a ordens superiores.

Buratti, em depoimento em fevereiro à Polícia Civil e a integrantes do Ministério Público alegou que Isabel é inocente e que apenas obedecia às ordens de Palocci.

¿ Neste inquérito não existe nada que comprometa o Palocci. Existem irregularidades que envolvem funcionários, mas não há provas que possam incriminar Palocci. E em nenhuma das escutas telefônicas o nome dele é citado ¿ enfatizou Batochio, da defesa de Palocci.

Em Ribeirão Preto, Batochio também criticou o relatório feito pela Polícia Federal e que aponta Palocci como o principal mandante da quebra do sigilo bancário da conta do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo.

¿ Se não concluiu o inquérito não há relatório. O código do Processo Penal que eu conheço diz que o relatório é a ultima manifestação do delegado quando termina o inquérito. Então não há relatório porque a lei não permite isto. Relatório não é salame que é servido em fatias ¿ disse Batochio.