Título: BASTOS DEPÕE HOJE PARA TENTAR CONTORNAR A CRISE
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 20/04/2006, O País, p. 10

Oposição vai centrar seus ataques na reunião do ministro da Justiça na casa de Palocci

BRASÍLIA. Mesmo com a oposição prometendo jogar pesado no depoimento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o governo vai tentar sepultar hoje a suspeita sobre a participação dele no episódio da violação do sigilo do caseiro Francenildo Costa. Em sua defesa, Bastos vai afirmar que alertou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda no dia 23 de março, sobre a gravidade do episódio e das investidas da Polícia Federal para esclarecer o fato. Naquele mesmo dia, Bastos tinha participado de reunião na casa do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, com o advogado Arnaldo Malheiros.

O Planalto trabalha para que o Bastos não tenha que voltar a dar explicações ao Congresso. A oposição deve concentrar os ataques com perguntas sobre a reunião na casa de Palocci, que também teve a participação do ex-presidente da Caixa, Jorge Mattoso.

Para rebater os ataques, Bastos preparou uma cronologia dos fatos que mostraria que a PF já estava atuando desde 21 de março. O ministro deve afirmar que no dia 23, depois do encontro com Palocci, participou da reunião de coordenação política no Planalto e que na ocasião avisou aos colegas de governo que a PF já tinha indícios do envolvimento de funcionários da Caixa na violação.

Segundo assessores, Bastos vai alegar que atuou apenas como ministro e não como advogado de defesa. E que a prova disso é que a PF tem apurado todas as denúncias contra o governo. Mas a oposição também vai cobrar explicações para o fato de dois assessores dele ¿ o secretário de Direito Econômico Daniel Goldberg e o chefe de gabinete Claudio Alencar ¿ terem ido à casa de Palocci no dia 16 de março, na noite em que o sigilo foi quebrado.

¿ Bastos tem trabalhado pouco como ministro e muito como advogado dos envolvidos. Mas agora tudo aponta para uma participação direta dele ¿ atacou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

O presidente da CCJ, deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), negociou ontem com a oposição as regras do depoimento que começa às 10 horas. O ministro terá 40 minutos iniciais para apresentar sua defesa e depois cada deputado terá direito de falar por 3 minutos com direito a réplica e tréplica, somando 12 minutos.

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