Título: NA BOLÍVIA, SEQÜESTRO POR CAUSA DE SIDERÚRGICA
Autor: Eliane Oliveira, Flávia Barbosa e Monica Tavares
Fonte: O Globo, 20/04/2006, Economia, p. 23

População de Puerto Suarez exige que governo dê autorização à brasileira EBX

BUENOS AIRES. Três ministros do gabinete do presidente da Bolívia, Evo Morales, foram feitos reféns na madrugada de ontem por moradores da cidade de Puerto Suarez, na fronteira com o Brasil, que exigem que a empresa brasileira EBX, do empresário Eike Batista, seja autorizada a construir e operar uma siderúrgica na região. Foi necessário um batalhão de policiais e militares para libertar os ministros do Planejamento, Carlos Villegas, do Desenvolvimento Econômico, Celinda Sosa, e da Mineração, Walter Villarroel.

Eles haviam sido enviados para dialogar com os moradores da cidade, que ameaçavam uma greve geral e o bloqueio da fronteira com o Brasil. Semana passada, o governo Morales suspendeu a licença concedida à EBX, por violação de normas ambientais. Ontem à noite, o vice-presidente Alvaro García Linera (Morales está em viagem ao Paraguai), informou que a proibição será mantida, apesar dos protestos. Após a libertação dos ministros, os moradores convocaram uma greve geral e bloquearam uma das estradas que unem Brasil e Bolívia.

O conflito foi desencadeado pela decisão do governo de proibir a construção da siderúrgica. Semana passada, Villegas alegou que a EBX planejava usar carvão vegetal em vez de gás ¿ como exigem as leis bolivianas ¿ para fundir o ferro da jazida de Mutún, uma das mais ricas do mundo, o que teria grave impacto ambiental na região. O governo assegura que a EBX violou as leis e normas ambientais do país.

¿ Eles (a EBX) sabem disso e admitiram isso em uma carta que continha, também, uma proposta de solução ¿ dissera Villegas.

Segundo rumores que circularam ontem na Bolívia, o governo Morales suspeita que a EBX teria tido participação no seqüestro, apresentando denúncia judicial.

Em nota, a EBX Siderúrgica da Bolívia disse ontem que não teve oportunidade de apresentar ao governo boliviano seu projeto para a região, devido aos procedimentos para obter a licença ambiental. A empresa negou, ainda, os rumores de que sua presença na região seja ilegal. E condenou manifestações que recorram à força e à agressão.