Título: Conflito entre PM e sem-terra deixa oito feridos
Autor: Leticia Lins
Fonte: O Globo, 21/04/2006, O País, p. 16

Polícia diz que perseguia responsáveis por arrastão e não integrantes da marcha de abertura do II Fórum Social em Recife

RECIFE. Programada para ser uma grande festa de confraternização com a participação de mais de 500 entidades, a marcha de abertura do II Fórum Social Brasileiro terminou em confronto entre policiais militares e integrantes do MST ontem à noite, no Centro de Recife. O coordenador do MST em Pernambuco, Jaime Amorim, levou um tiro na mão e o incidente terminou com pelo menos oito feridos, seis deles integrantes do MST. Uma mulher desmaiou.

O MST culpou a Polícia Militar pelos disparos, e a PM atribuiu o confronto a um mal-entendido. De acordo com a PM, os policiais estavam perseguindo integrantes de gangues que já tinham tentando fazer um arrastão no início da caminhada, que reuniu cerca de dez mil pessoas, segundo os organizadores.

Bate-boca, empurrões e tiros logo no início da passeata

Pela versão da PM, os sem -terra teriam entendido que eles estavam perseguindo líderes do movimento, o que provocou a reação. O delegado de Polícia de Prevenção e Repressão ao Roubo de Cargas, César Urach, anunciara que pedirá a prisão preventiva de líderes do MST devido a dois saques realizados no município de São Lourenço da Mata, na última segunda-feira.

Amorim, que estava em cima do carro de som, desceu para tomar satisfação com os PMs. Houve bate-boca, empurrões e tiros. Além do disparo que atingiu a mão do líder do MST em Pernambuco, outro passou de raspão no cotovelo de Severino de Melo Filho, da Comissão Pastoral da Terra. O cinegrafista da TV Mangue Fábio dos Santos Pereira prestou queixa ontem na polícia por agressões que teria sofrido.

O capitão da PM Dimerson Mendes, encarregado da segurança da manifestação, chegou ao local de motocicleta para esclarecer que na realidade a PM estava perseguindo marginais. Mas, segundo a PM, antes de começar a se explicar ele foi espancado por sem-terra e militantes de outros movimentos sociais que participavam da marcha. Os sem-terra contestaram essa versão. O secretário de Defesa Social, Rodney Miranda, disse que o incidente será apurado com rigor.

Os debates do II Fórum começam hoje na Universidade Federal de Pernambuco com o tema ¿Caminhos para outro mundo possível ¿ a experiência brasileira¿. O MST participa de pelo menos oito eventos.

Cerca de 200 crianças ligadas ao MST ¿ os sem-terrinha ¿ abriram a caminhada gritando a palavra de ordem: ¿Bandeira, bandeira vermelhinha, o futuro do Brasil está nas mãos dos sem-terrinha¿. Eles erguiam cartazes lembrando a impunidade durante a passagem dos dez anos do Massacre de Eldorado do Carajás.

Logo no início, houve o conflito com gangues quando a marcha por um ponto de venda de drogas no Centro de Recife e 20 adolescentes entraram no meio da multidão portando porretes e pedaços de pau. Alguns líderes do MST se juntaram aos seguranças para evitar que o tumulto se generalizasse. Teriam sido esses marginais que a PM identificou e foi prender, antes do início do conflito.

A recomendação dos organizadores do evento para evitar política partidária não surtiu efeito. Bandeiras do PT, do PCdoB, do P-SOL e do PSB tomaram conta do desfile. Houve também integrantes do movimento Crítica Radical, e também grupos de defesa das comunidades gays, feministas e ativistas contra o imperialismo, como a francesa Gigi Bandler, do grupo feminista Loucas da Pedra Lilás.