Título: SUS É APROVADO MAS NÃO É PERFEITO
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 21/04/2006, O País, p. 14

Demagogia e subfinanciamento são algumas das falhas apontadas

Embora os especialistas concordem que a saúde no Brasil não está próxima da perfeição, a defesa do SUS, o Sistema Único de Saúde, é unânime. Mas foi criado pela Constituição de 1988 e implantado a partir de 1990. O SUS substituiu o Inamps, que atendia exclusivamente quem tinha carteira de trabalho e contribuía com o INSS, enquanto o restante da população recebia atenção precária. Mas as falhas ainda são alarmantes.

¿ Além das questões sociais que acabam desaguando na saúde, como o desemprego, a pobreza, a falta de moradia e de saneamento, há o mau gerenciamento do sistema, que está longe da perfeição. O sistema deveria ser regionalizado e hierarquizado, mas é ¿hospitalocêntrico¿, ou seja, muito focado no atendimento hospitalar e não na assistência básica e prevenção. A cobertura do programa Saúde da Família ainda é muito baixa, no Estado do Rio não chega a 5% ¿ diz a dermatologista Maria Leide Wan Del Rey de Oliveira, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ), que coordena um trabalho de pesquisa sobre hanseníase na Baixada Fluminense.

Maria Leide, que participou das discussões que acabaram gerando o SUS na década de 80, diz que há avanços muito importantes, mas cita também o uso político de algumas propostas que se tornam danosas para o sistema:

¿ Os governos, tanto federal quanto estadual, criam as farmácias populares para oferecer remédio a preço baixo mas não abastecem de medicamentos os postos de saúde. Eu fico triste de ver essa demagogia.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Antonio Carlos Lopes, professor da Faculdade Paulista de Medicina, da Universidade federal de São Paulo (Unifesp), há ¿um grande fundo de verdade¿ na frase dita por Lula.

¿ Eu avalio que houve um progresso muito importante no atendimento médico compromissado com o social. Especificamente em relação ao trabalho conjunto dos ministérios da Saúde e da Educação, tivemos grandes avanços. Médicos residentes estão sendo enviados para atender em regiões de difícil acesso e de fronteira, e a passagem pelo SUS durante a residência médica (período de dois a três anos no qual o médico, após concluída a graduação, se especializa) agora é obrigatória. Mas claro que há muito a melhorar ¿ diz ele.

O secretário de Saúde do Ceará, Jurandi Frutuoso Silva, também presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), afirma que temos "um sistema de saúde em evolução positiva", mas que é deficiente em questões como o acesso de pacientes a consultas e exames especializados e, principalmente, é subfinanciado:

¿ É um problema drástico. E a Proposta de Emenda Constitucional 29, sobre a definição do investimento em saúde por nível de governo, está parada no Congresso. Se fosse aprovada, liberaria entre R$10 bilhões e R$12 bilhões para investimento direto na saúde.