Título: LUCRO QUE SAI DO PAÍS
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 21/04/2006, Economia, p. 29

Remessas ao exterior cresceram 49% em março e atingiram US$1,238 bilhão

As remessas de lucros e dividendos por companhias instaladas no Brasil subiram fortemente em março, fazendo com que o saldo de US$1,353 bilhão nas transações correntes do país registrasse queda de 22% em relação ao mesmo mês de 2005. Os envios, no total de US$1,238 bilhão, cresceram 49,3% sobre fevereiro (US$829 milhões) e 87,3% sobre março do ano passado (US$661 milhões). Em abril, até ontem, somavam US$1,016 bilhão. Porém, os dados do Banco Central (BC) divulgados ontem apontam que permanece o apetite por aplicar recursos no país, tanto no mercado financeiro quanto no setor produtivo. Só o investimento direto estrangeiro cresceu 89,6% em março frente a fevereiro. Transações correntes são as operações do país com o exterior, como exportação, importação e pagamentos de juros de dívidas.

Para Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC, o movimento de remessas é sazonal e reflete a maior produtividade das empresas. Também influencia o real valorizado (mais forte que o dólar), que faz com que sejam enviados às matrizes mais recursos em moeda estrangeira a partir do mesmo volume faturado em reais no Brasil.

O pagamento de juros ¿ US$901 milhões em março, contra US$774 milhões no mesmo mês de 2005 ¿ também influenciou o recuo, na comparação anual, do saldo em conta corrente. Lopes adiantou que essas operações estão se intensificando fortemente este mês, com o adiantamento do pagamento dos bradies (títulos oriundos da renegociação da dívida externa) pelo Tesouro Nacional.

BC ainda projeta saldo de US$8,5 bi

Só até ontem, os desembolsos chegavam a US$1,314 bilhão em abril, o que deve levar o saldo corrente a encerrar o mês com superávit de apenas US$500 milhões. Em março, mais uma vez a balança comercial, positiva em US$3,680 bilhões (30,4% mais do que em fevereiro), segurou o resultado das transações correntes do país. Espera-se que isso se repita em abril.

Outra surpresa do mês foi a entrada forte de recursos financeiros para investimento em renda fixa. O aumento das operações foi beneficiado pela desoneração de Imposto de Renda na compra de títulos públicos por estrangeiros, concedida há dois meses. Foram trazidos ao Brasil nesta modalidade, em março, cerca de US$3 bilhões. Este montante é mais de 3.000% superior ao de março de 2005, de US$90 milhões. O BC estimou ainda que a dívida total externa do país ficou em US$190,269 bilhões em março, 1,21% a mais que em dezembro.

¿ Há uma grande procura pelos papéis, aproveitando que não tem cobrança do IR ¿ afirmou Lopes.

O BC esperava que as transações com o exterior ¿ que englobam também comércio, serviço, transferências e viagens ¿ fechassem o mês em US$1,6 bilhão. Mas, mesmo com o superávit abaixo do esperado, o BC informou que vai revisar para cima a projeção do ano, de saldo positivo em US$8,5 bilhões. No acumulado do primeiro trimestre, o resultado das transações correntes é de US$1,790 bilhão.

¿ Os dados se mostram conservadores para as nossas projeções ¿ disse Lopes, informando apenas que as estimativas são alteradas a cada trimestre.

Hotéis puxam setor imobiliário

Os investimentos estrangeiros diretos registraram entradas líquidas de US$1,629 bilhão no mês passado, 17% a mais do que no ano passado. Sobressaiu-se o setor imobiliário, com US$240 milhões acumulados no ano, quase o mesmo montante de todo 2005 (US$297 milhões). Para Lopes, esse setor tende a se destacar daqui para frente, sobretudo graças aos investimentos no ramo de hotéis.

¿ Esses investimentos estão muito bons e positivos, como reflexo da economia brasileira ¿ disse Lopes.

Em abril, até ontem, os investimentos totais já estavam em US$700 milhões, devendo encerrar o mês com entradas líquidas de US$1 bilhão, o que reforça a projeção do BC de fechar 2006 com US$18 bilhões. No trimestre, eles já estão em US$3,957 bilhões. As despesas com viagens internacionais ficaram positivas em US$39 milhões em março, o que mostra o maior interesse dos turistas estrangeiros no país.