Título: DESEMPREGO SOBE PARA 10,4%, MAS SALÁRIO É O MAIS ALTO EM TRÊS ANOS
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 21/04/2006, Economia, p. 30

Em março, não houve contratações. No primeiro trimestre, taxa foi de 9,9%

O mercado de trabalho em março teve uma ligeira melhora, apesar da alta da taxa de desemprego. No mês passado, 10,4% da força de trabalho em seis regiões metropolitanas estavam à procura de uma ocupação, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego, divulgada ontem pelo IBGE. Em fevereiro, a taxa ficara em 10,1%. Mesmo assim, no primeiro trimestre deste ano, o índice médio atingiu pela primeira vez um dígito: 9,9%, contra 10,5% de 2005. Outro sinal de melhora foi a alta do rendimento médio real. Alcançou R$1.006,60, o maior valor desde fevereiro de 2003. Os salários subiram, descontando a inflação, 0,5% frente a fevereiro e 2,5% contra março de 2005:

¿ Esses números mostram que conseguimos recuperar a grande perda no rendimento provocada pela estagnação da economia em 2003. Agora, o salário começa a ter ganhos novamente ¿ disse o economista Marcelo de Ávila, consultor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Taxa deve cair neste semestre, dizem analistas

Cimar Azeredo, coordenador da pesquisa do IBGE, esperava até um aumento maior no ganho do trabalhador:

¿ Nossa expectativa era de uma alta maior, pelo comportamento positivo que os salários têm apresentado nos últimos meses. Como não houve entrada de mais trabalhadores no mercado formal em março, na comparação com fevereiro, e queda no rendimento dos empregados sem carteira assinada, o ganho médio subiu pouco.

A alta na taxa de desemprego foi considerada sazonal pelo técnico do IBGE. Ele afirma que, nesse período do ano, o desemprego sobe com o aumento da procura por trabalho e pela ¿economia ainda não ter ligado as turbinas¿ para atender à demanda do segundo semestre:

¿ Esperava-se até um aumento maior da taxa, com a dispensa dos trabalhadores temporários, que houve com mais intensidade de janeiro para fevereiro. Mas, nos próximos meses, as contratações devem começar, conforme mostram as pesquisas anteriores.

Mesma percepção tem o diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia. Estudando o comportamento da taxa de desemprego ao longo dos anos, ele observou que os picos das taxas acontecem entre abril e junho:

¿ Portanto, a taxa deve começar a cair ainda neste semestre.

Ávila concorda, mas chama a atenção para o freio na criação de postos de trabalho se a comparação for feita com o mesmo mês do ano passado. Nesse caso, a alta em março foi de apenas 1,9%, com a inclusão de 369 mil pessoas no universo de ocupados. Foi a menor variação desde fevereiro de 2004, quando o aumento foi de 1,7%.

Antonio Barbosa estuda Direito e há mais de um mês tenta entrar no rol de empregados com carteira assinada. Um corte de funcionários no estacionamento onde trabalhava o fez mais um entre os 2,3 milhões desempregados nas seis regiões.

¿ Já deixei mais de 20 currículos e estou vivendo com a indenização e o seguro-desemprego. Minha mulher, que trabalha numa empresa que presta serviço para a Prefeitura, não recebe há três meses. Estou aceitando qualquer coisa, não posso ficar parado.

Mas o ano promete ser bom para os trabalhadores. Saboia lembra que é ano eleitoral e o crescimento da economia deve superar o de 2005, aproximando-se de 4%.