Título: Alianças incríveis
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 22/04/2006, O GLOBO, p. 2

Com o lançamento da candidatura do deputado Eduardo Paes ao governo do Rio já são quatro os estados onde o PFL e o PSDB terão palanques diferentes. Mas em São Paulo o casamento vai muito bem. Ali, o desespero é de Lula e dos petistas, que diante da vantagem avassaladora de José Serra já pensam mesmo em lançar a candidatura do deputado Aldo Rebelo ao governo do estado.

Se não para ganhar, pelo menos para tentar forçar o segundo turno. Se Serra ganhar logo de primeira, e houver segundo turno presidencial, Lula fica sem palanque no estado. Segundo as pesquisas atuais, Serra ganharia de saída tendo Marta Suplicy ou Aloizio Mercadante como candidatos do PT ao governo.

O presidente da Câmara tem dito que iria para o sacrifício em nome do interesse nacional que une Lula, o PT e seu partido, o PCdoB. Mas não iria só, e sim numa aliança com o PMDB de Orestes Quércia. A conversa começou exatamente com um recado de Quércia, uma sondagem sobre a hipótese de Aldo ser o candidato ao Senado numa chapa dele como candidato a governador. ¿A vice-versa também serve¿, teria dito Aldo.

Quércia está tendo uma ressurreição política espetacular para quem já foi dado como morto político. No quadro paulista, ele pode ser o pêndulo que tornará a disputa mais equilibrada, evitando que os tucanos façam logo barba, cabelo e bigode. Os tucanos lhe fazem uma corte intensa. Os petistas também. No plano nacional, ele é o padrinho da pré-candidatura de Itamar Franco a presidente pelo PMDB, uma invenção que está tirando o sono de Garotinho.

Na disputa estadual, Quércia seria razoavelmente competitivo tanto concorrendo ao governo como ao Senado. Estaria disposto a apoiar Lula e o candidato petista a governador se o PT lhe apoiasse para o Senado. Mas isso é impossível. Exigiria o sacrifício da candidatura do senador Eduardo Suplicy. O PT sabe o que seria dito: que por ambição eleitoral e para reeleger Lula, foi capaz de sacrificar o petista ético em favor de um adversário de ontem.

Concorrendo ao Senado na composição com o PCdoB de Aldo, elegendo-se ou não, Quércia continuaria sendo um aliado cobiçado no segundo turno presidencial.

A conversa sobre a incrível aliança com Aldo está apenas começando. Tem a bênção de peemedebistas e de petistas interessados no segundo turno paulista. Ao longo de maio e junho ainda veremos o quadro eleitoral nos estados dar muitas piruetas, produzindo alianças insólitas como esta que uniria o comunista e o peemedebista.