Título: PRIORIDADES
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Fonte: O Globo, 22/04/2006, Opinião, p. 6

Houve um tempo em que falar de milionários era algo de impressionar. De uns tempos para cá o tal milhão ficou menos famoso. Pois bem, antes mesmo que vencêssemos a primeira década do século XXI, eis que chegamos na casa do trilhão. Espantoso é que esse trilhão, 12 anos atrás, era apenas um moleque de R$60 bilhões, dívida em títulos do Tesouro nacional, que, junto com outras dívidas, metia-se lá na casa dos 30% do PIB. Esse trilhão, assustador e gigantesco entre nós, é o estoque da dívida pública interna em títulos do Tesouro nacional.

Alguns dizem que o tamanho do gigante não importa, mas sim a natureza de suas entranhas, com destaque às mudanças ocorridas nestes últimos anos entre os diferentes tipos de títulos e suas formas de remuneração. Pergunto-me em que país esses tecnocratas vivem e como vivem.

A combinação de políticas macroeconômicas consideradas ¿neutras¿ no combate à inflação, de elevadas taxas de juros (tratadas como receita universal) e, ainda, um misto de dogmas, e nenhum debate democrático ou controle externo sobre o Banco Central e o Copom fez com que o Tesouro vivesse o maior seqüestro de nossa recente história. O país já pagou juros demais, já foi espectador passivo por longo tempo das teses elaboradas por grupos de interesses em receber mais e mais do Tesouro, travestidas de medidas ¿responsáveis¿ de política macroeconômica e de controle da inflação. Mais produção, mais educação básica e superior, mais crescimento econômico, mais crédito, menos juros, mais oferta. Isto sim segura a inflação.

Impostos e contribuições sociais não foram criados para servir de regime de engorda aos que aplicam em títulos públicos com risco zero em seus negócios. Foram criados para que o país se desenvolva, reduza as desigualdades, aumente sua capacidade produtiva e promova a superação da miséria.

PAULO RUBEM SANTIAGO é deputado federal (PT-PE).