Título: PROTESTO DA VARIG É SILENCIADO
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 22/04/2006, Economia, p. 18

Se não fizessem barulho, funcionários encontrariam Lula

Enquanto dentro do Museu Histórico Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorava com autoridades a auto-suficiência do Brasil na produção de petróleo, do lado de fora cerca de 200 funcionários da Varig se mostraram com todo o gás. Com faixas e cartazes eles, que começaram o dia numa passeata na orla de Ipanema, esperavam desde as 14h na porta do museu pela chegada de Lula, na tentativa de conseguir uma audiência para discutir um plano de salvação para a empresa. Os manifestantes pediam que o governo pagasse a dívida de R$4,5 bilhões que tem com a companhia aérea, para que ela possa continuar operando.

¿ Não queremos um centavo do governo, só que se cumpra o plano de recuperação proposto pela Alvarez e Marçal, que inclui concessões de todos os credores, inclusive nós, funcionários ¿ dizia o presidente da Associação de Pilotos da Varig, Rodrigo Marocco. ¿ Há quatro anos tentamos falar com Lula.

Para evitar tumultos, um encontro do presidente com uma comissão de quatro funcionários da companhia foi prometido por um suposto assessor da presidência. Júlio Cezar Berzot ¿ que, segundo a deputada Jandira Feghali (PC do B), seria na verdade chefe da segurança ¿ negociou com Marocco a estratégica audiência, que não chegaria a acontecer. Durante boa parte do evento, Berzot realmente conseguiu o silêncio dos funcionários da Varig. E tudo o que se ouvia na porta do museu era ¿um, dois, três, Lula outra vez¿, cantado por militantes do PC do B.

Ao fim da cerimônia, por volta das 19h, Jandira saiu do museu com um recado da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, aos manifestantes. Ela disse a eles que as negociações continuarão sendo conduzidas pelo ministro da Defesa, Waldir Pires, e que o governo está empenhado com a ¿nova Varig, com empregos, e com a Varig voando¿. Foi quando o protesto ganhou energia e explodiu, com o grupo saindo em passeata aos gritos de ¿Lula traidor¿ e ¿O que Lula é? É o chefe da quadrilha¿. Mas, muito provavelmente, o presidente nem viu nem ouviu a manifestação: chegou e saiu da cerimônia por outro local, sem ser notado.