Título: REI DO NEPAL RENUNCIA AO PODER ABSOLUTO
Autor:
Fonte: O Globo, 22/04/2006, O Mundo, p. 22

Pressionado por protestos, Gyanendra pede que oposição indique premier, mas não diz se convocará eleições

KATMANDU. Após duas semanas de intensos protestos que paralisaram o Nepal, o rei Gyanendra anunciou ontem sua renúncia ao poder absoluto e pediu aos partidos de oposição que indiquem um candidato a primeiro-ministro. Mas é pouco provável que a medida contenha as manifestações por democracia, que já resultaram na morte de cerca de 15 pessoas em confrontos com a polícia. A mensagem do rei foi considerada vaga pela oposição, que prometeu manter os protestos.

¿ O poder executivo do Reino do Nepal, que estava sob nossa guarda, será a partir deste dia devolvido ao povo ¿ disse o rei Gyanendra, que assumira o poder absoluto em 1º de fevereiro de 2005. ¿ Pedimos à aliança de sete partidos (de oposição) que recomende um nome para primeiro-ministro.

Gyanendra, no entanto, não respondeu às duas principais exigências dos manifestantes, que têm desafiado o toque de recolher e a dura repressão da polícia desde 6 de abril: a restauração do Parlamento, dissolvido em 2002, e a realização de eleições para uma Assembléia Constituinte, o que poderia limitar seus poderes ou mesmo determinar o fim da monarquia.

Krishna Sitaula, porta-voz do principal partido do país, o Congresso Nepalês, informou que a oposição se reunirá hoje para dar uma resposta oficial a Gyanendra, mas adiantou que as mobilizações continuarão porque a mensagem ¿não foi clara¿. A oposição deve apresentar ao monarca um plano de ação que leve à convocação de eleições para a Assembléia Constituinte.

¿ Nossa campanha de protestos continuará ¿ afirmou.

No ano passado, Gyanendra destituiu o governo, dizendo que ele falhara no combate à guerrilha maoísta ¿ um conflito de mais de uma década que já matou 13 mil pessoas. Mas a sua recusa a negociar com os rebeldes e a dura repressão acabaram aumentando a violência.

Manifestantes voltam às ruas de Katmandu

A medida aproximou os partidos da guerrilha, que fecharam um acordo em novembro para restabelecer a democracia. Uma nova rodada de negociações em março selou o apoio dos rebeldes aos protestos, com um cessar-fogo sendo declarado no início do mês. A trégua abriu caminho para a adesão de milhares de pessoas às manifestações e isolou ainda mais Gyanendra.

Apesar da reação da oposição, o pronunciamento de Gyanendra foi bem recebido por União Européia, Índia e Estados Unidos, que disseram esperar que o rei cumpra a promessa assumida.

Poucas horas antes de o rei ir à TV, o embaixador americano em Katmandu, James Moriarty, alertara para a possibilidade de uma revolução no país.

¿ O tempo está se esgotando. No fim das contas, o rei terá que sair se não conseguir um acordo. E quando digo ¿no fim das contas¿ quero dizer mais cedo do que mais tarde.

A pressão sobre Gyanendra continua. Ontem os protestos se repetiram nas ruas da capital. Milhares de pessoas gritavam frases contra o rei. Manifestantes queimaram um escritório do governo nos arredores da capital e enfrentaram policiais em vários pontos da cidade. Na véspera, quando mais de cem mil pessoas foram às ruas, a polícia disparou contra os manifestantes. Três pessoas morreram e mais de cem ficaram feridas.

http://www.oglobo.com.br/mundo