Título: LÍDER PROGRESSISTA DA IGREJA DEFENDE USO DA CAMISINHA
Autor:
Fonte: O Globo, 22/04/2006, O Mundo, p. 23

Para cardeal Martini, em situações específicas preservativo é mal menor

ROMA. Um dos principais cardeais da Igreja Católica defendeu ontem o uso de preservativos para evitar a contaminação da Aids em determinados casos. As declarações, feitas por Carlo Maria Martini, ex-arcebispo de Milão e um dos líderes da ala progressista da Igreja, tiveram um forte impacto no Vaticano.

Numa longa entrevista concedida ao cientista e especialista em bioética Ignazio Marino publicada no jornal italiano ¿L¿Espresso¿, Martini disse considerar que o uso da camisinha pode ser, em situações específicas, uma opção. Perguntado sobre como a Igreja pode se opor ao uso do preservativo para conter a propagação da Aids se ela própria defende a escolha do mal menor em casos em que vidas estão em jogo, Martini respondeu:

¿Devemos fazer todo o possível para combater a Aids. Por certo, o uso de preservativos pode ser, em determinadas situações, um mal menor. Também é a situação singular de um casamento no qual um dos dois tem Aids. Um está obrigado a proteger o outro e, o outro, obrigado a proteger a si próprio.¿

Martini teve nove votos no conclave de 2005

Martini ressaltou que uma coisa é aceitar este ¿mal menor¿ em casos específicos e outra é a Igreja promover a utilização da camisinha.

No conclave que há um ano escolheu Joseph Ratzinger como Papa Bento XVI, Martini era o líder da ala progressista, mas, adoentado aos 78 anos, não era uma opção viável. Ainda assim, chegou a receber nove votos.

Recentemente, outros dois cardeais, o belga Godfried Danneels e o mexicano Javier Lozano Barragán, fizeram declarações parecidas sobre os preservativos. O Vaticano, no entanto, proíbe o uso da camisinha, pois considera sua utilização uma forma de contracepção artificial. A Santa Sé não se pronunciou sobre as declarações de Martini.