Título: CHERYL E O DRAMA DA ESPERA TORTURANTE
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 23/04/2006, O País, p. 16

Condenada por tráfico, sul-africana só tem o ofício da liberdade condicional

SÃO PAULO. Na bolsa de crochê que ela mesmo fez enquanto esteve presa nos últimos três anos, a sul-africana Cheryl de Witt carrega seu único documento: um ofício da Justiça permitindo sua liberdade condicional. Desde que deixou a Penitenciária Feminina de São Paulo, há dez dias, Cheryl se vê presa à burocracia do Judiciário para recuperar os documentos retidos pela PF em março de 2003, quando foi presa no aeroporto de São Paulo com 700 gramas de cocaína.

Cheryl cumpriu três anos de prisão e, por bom comportamento, deixou a cadeia um ano antes do previsto. Solta, enfrenta uma batalha para ter de volta seus documentos. Amparada pela Pastoral Carcerária, conseguiu vaga num abrigo da prefeitura para mulheres ¿em situação de vulnerabilidade¿ e agora tenta ser expulsa do Brasil:

¿ Não tenho documentos e não consigo ter informações precisas. Alguns dizem que posso ser expulsa e voltar para a África do Sul em dois meses, e outros que só vou conseguir deixar o Brasil daqui a três anos.

No ofício expedido no último dia 13, o juiz decretou, entre outras ordens, que Cheryl, de 45 anos, tem de ter ocupação ¿honesta e lícita¿ em 30 dias.

¿ Como vou arrumar emprego se o único documento que tenho são duas folhas dando conta de que estou em liberdade condicional? O consulado ignora uma situação como essa.

Para Cheryl, o governo brasileiro deveria ajudar a mandar de volta estrangeiro em situação irregular. Pela lei do Brasil, porém, ela tem de cumprir a condicional onde o crime ocorreu.