Título: Patrimônio de Picciani aumentou 1.065%
Autor: Antonio Werneck e Dimmi Amora
Fonte: O Globo, 23/04/2006, Rio, p. 22

Apesar de constatar o aumento percentual em uma década, relatório só analisa crescimento em cinco anos: de 265%

No relatório da Procuradoria Regional da República da Segunda Região, consta que, depois de analisar documentos enviados pela Receita Federal, foi concluído que o patrimônio do deputado estadual Jorge Picciani, atual presidente da Alerj, teve um aumento, ao longo de dez anos, a partir de 1994, equivalente a 1.065%. É dito também que em todos os anos analisados foi identificado patrimônio a descoberto elevado. Ainda segundo o documento, a movimentação financeira do deputado é incompatível em todos os anos sob análise. Apesar de constatar o aumento de mais de mil por cento em uma década, o relatório deixa claro que a análise se restringiu aos anos de 1999 a 2003, nos quais foi verificado um aumento de 265% do patrimônio declarado.

Gasto de R$895 mil sem dinheiro na conta

É dito ainda que o atual presidente da Alerj já tinha sido objeto de ação fiscal que abrangeu os anos-calendário de 1997 e 1998, que resultaram na constatação de patrimônio a descoberto. Na época foi lavrado auto de infração.

Segundo o documento, no ano em que se constata o maior valor de patrimônio a descoberto, ou seja, em 2001, o parlamentar adquiriu ações de uma empresa de agropecuária num valor total de R$1.007.000,00, sendo que seu saldo nessa época era de R$111.217,39. A Receita identificou o valor de R$895.782,70 a descoberto, ¿sem origem conhecida ou declarada e anteriormente inexistente em sua conta¿.

De acordo com o relatório, a atividade agropecuária do deputado ¿é aonde sobrepairam maiores dúvidas¿. No ano de 2001, com despesas ínfimas de custeio com a atividade de criação de gado de alta linhagem, o deputado Picciani dobrou seus rendimentos e, no ano seguinte, triplicou-os. Segundo documento da Procuradoria Regional da República, ¿as receitas e despesas de atividade rural contrastam com a movimentação financeira, caracterizando omissão de rendimentos e valores que não transitaram pelas contas bancárias do contribuinte¿ .

Foram constatadas outras irregularidades, como o subfaturamento na compra de uma fazenda cujo valor pode chegar a cifras entre R$7 milhões e R$60 milhões, que foi comprada (pelo menos assim foi declarado) por R$2,1 milhões. O procurador-chefe conclui que ¿convergem os indícios coligidos pela Receita Federal para a possibilidade concreta de que o parlamentar estadual estaria ocultando patrimônio e utilizando suas atividades de agropecuarista para introduzir capital de origem ilícita, dissimulando sua origem.¿