Título: Reino Unido aperta o cerco aos brasileiros
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 23/04/2006, O Mundo, p. 39

Não só a vigilância aumentou, como a oferta de empregos diminuiu devido à ampliação da União Européia

LONDRES. Depois do 11 de Setembro, entrar nos Estados Unidos se transformou numa operação ainda mais complicada para imigrantes brasileiros, que logo voltaram suas atenções para o Reino Unido, um dos poucos países europeus onde a vigilância na entrada e ao trabalho ilegal eram mais relaxados na época. Mas tudo começou a mudar em 2003, quando o governo britânico ¿ já em preparação para o processo de ampliação da União Européia (UE) ¿ apertou o cerco.

Basta ver pelo número de brasileiros que tiveram sua entrada negada: de 1.505 em 2001, esse número passou para 5.180 em 2004, ano em que os brasileiros se tornaram os cidadãos com o maior número de entradas impedidas em portos e aeroportos britânicos.

Ainda assim, os imigrantes brasileiros estão em toda parte, especialmente em Londres. Não há números oficiais, mas as estimativas são de que mais de cem mil brasileiros vivam no Reino Unido. O governo britânico tem pressionado as autoridades brasileiras a desestimularem a vinda ilegal de cidadãos e o embaixador do Reino Unido em Brasília, Peter Colecott, já se referiu algumas vezes a uma possível revogação do acordo de isenção de visto entre os dois países.

Hoje, no entanto, o maior problema não são as deportações, mas sim a escassez de empregos provocada pela entrada de dez novos países na UE, incluindo a Polônia, antes uma das nações com maior número de imigrantes ilegais.

Falta dinheiro até para passagem de ônibus

Em alguns casos, a solução tem sido o repatriamento voluntário, serviço oferecido pela Organização de Migração Internacional (IMO), que na década de 40 atuava no auxílio ao retorno de refugiados da Segunda Guerra Mundial.

Segundo as mais recentes estatísticas da IMO, os brasileiros lideram a lista de beneficiados pelo programa que fornece passagem de volta até a cidade de origem do imigrante e, se necessário, assistência médica.

¿ Há muitos brasileiros que chegam achando que será fácil se instalar, mas a realidade é que ficou mais difícil trabalhar ilegalmente desde a entrada dos países da Europa Oriental na União Européia. Há casos de pessoas que praticamente não têm dinheiro sequer para pegar um ônibus ¿ afirma Sarah Fonseca, diretora do escritório londrino da IOM.

O repatriamento voluntário é financiado com recursos do Ministério do Interior, órgão também responsável por evitar a imigração ilegal. Em 2005, 134 brasileiros voltaram para casa com a ajuda da IMO, número quatro vezes maior que o de bolivianos, a segunda nacionalidade mais beneficiada pelo programa.