Título: À procura do anti-Lula
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 24/04/2006, O GLOBO, p. 2

¿E o Itamar, hein?!¿. Nos últimos dias petistas e tucanos repetiram este comentário nas rodas políticas com aquela despretensão com que se comenta o fim do verão no Rio ou a chegada da seca em Brasília. Atrás do chiste, a dissimulada preocupação dos que se entendem como ¿pólos de poder¿ no Brasil com a possibilidade de Itamar vir a ser novamente um ¿azarão¿, ou de Garotinho vir a ficar com o papel de anti-Lula.

Os tucanos encerraram a semana particularmente chateados com as avaliações colhidas por pesquisas qualitativas e telefônicas sobre o candidato Geraldo Alckmin. Em umas delas, feita por telefone, ele aparece em terceiro lugar, atrás de Itamar Franco, na simulação em que este figura como candidato do PMDB. O que todas elas demonstram é que o candidato tucano, embora tenha sido apresentado como o anti-Lula, não está sendo percebido assim pelo eleitorado descontente.

A verdade é que, apesar de estarem se devorando na arena da moralidade, trocando acusações e xingamentos, tucanos e petistas falam a mesma língua no que diz respeito aos rumos do país.

Lula não se apresenta como candidato, mas sua plataforma é obviamente de continuidade, enfeitada por um tríptico: crescimento, desenvolvimento e distribuição de renda. Os tucanos reclamam do amadorismo e da improvisação da campanha de Alckmin, que estão tratando de estruturar. Mas a carência maior é de um discurso diferenciador, sobretudo em matéria de política econômica, para além dos ataques de ordem moral. Mais de uma vez o candidato tucano já deixou claro que não mexerá no tripé de base da política Palocci-Mantega: câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário. Ele ataca frontalmente os juros altos e o gasto público, mas nunca se insurge contra os três pontos fundamentais. Seu coordenador de campanha, Sérgio Guerra, admite que para ganhar será preciso ir além do discurso ético, apresentando propostas ¿que levantem a esperança¿. Mas até agora, não apareceram.

Já Itamar começa a se apresentar como o verdadeiro pai do Real, acusando Fernando Henrique e os tucanos de terem desvirtuado o plano, amarrando-o a premissas liberais que o impediram de produzir o crescimento econômico para o qual teria sido concebido, por ordem de Itamar a seu então ministro da Fazenda, FH. Orestes Quércia, inventor da candidatura Itamar, diz isso o tempo todo.

Mais desenvoltura ainda tem o pré-candidato Garotinho para se contrapor a tucanos e petistas em matéria de política econômica. Seu programa de governo, elaborado por uma equipe coordenada pelo economista Carlos Lessa, prega a ruptura sem rodeios. Defende o fim do compromisso com superávits primários, a administração do câmbio e o controle do fluxo de capitais. A inflação seria combatida através de um pacto pela estabilidade de preços, seja lá o que isso signifique.

Para quem busca uma terceira via entre o PT e o PSDB, o PMDB tem portanto duas alternativas a oferecer, embora a candidatura própria enfrente dificuldades. Mas ela crescerá até junho se Alckmin continuar patinando. Contra Itamar, brande-se sua imprevisibilidade. Mas apesar dela, ele sempre esteve no lugar certo na hora certa e se deu bem. Contra Garotinho, brande-se o epíteto de populista. Entretanto, uma das razões da força de Lula entre os mais pobres está em suas políticas sociais, taxadas de assistencialistas e populistas. Mas na semana passada Alckmin prometeu, no Nordeste de Lula, que se eleito ampliará o Bolsa Família. No governo paulista, ele fez 21 restaurantes populares de refeição a R$1, marca registrada de Garotinho. O receio de que um dos peemedebistas acabe ficando com a vaga anti-Lula no segundo turno tem aumentando, com razão, o nervosismo de tucanos e pefelistas.

Os pais da Pátria

Em tempo de desencanto com a política do presente, a Câmara recorda os grandes vultos da nacionalidade, destacando 24 figuras que, ao longo de cinco séculos, ajudaram a construir a civilização brasileira. Foram escolhidos por uma comissão de historiadores e intelectuais a pedido do presidente da Câmara, Aldo Rebelo. Cada um deles terá um ¿bico de pena¿, acompanhado de biografia, exposto no gabinete da presidência a partir de quarta-feira, quando a exposição será aberta em solenidade a que muitas autoridades prometem comparecer. Inclusive o presidente Lula.

Lá estarão, enfileirados, de Tibiriçá a Tancredo Neves, de Tiradentes a JK. Melhor: a TV Câmara distribuirá um vídeo sobre esses pais da Pátria a todas as escolas públicas.

OS PROBLEMAS enfrentados pela candidatura de Alckmin ¿ escolhido pelo PSDB apesar de Serra ter exibido maior competitividade ¿ já firmaram no PFL a convicção de que o candidato a governador do Distrito Federal deve ser José Roberto Arruda, com larga vantagem sobre o outro postulante, senador Paulo Octávio. ¿Está provado que escolhas antinaturais não levam a bom resultado¿, diz o líder Rodrigo Maia.

O LÍDER do PSDB, Jutahy Júnior, faz um esclarecimento. Ele continua achando que foi através da Polícia Federal que o ministro Palocci soube da conta de Francenildo na CEF. Horas depois de a PF tirar cópias do documentos do caseiro, inclusive do cartão bancário, o sigilo foi quebrado. Mas não acha, ao contrário do que foi escrito aqui, que foi Bastos quem deu a informação a Palocci. ¿Acho que a PF participou de uma operação de Estado contra o caseiro. Sem dúvida o ministro da Justiça não foi pombo-correio. Mas errou ao indicar um advogado a Palocci e com ele se reunir quando o ministro da Fazenda já era um suspeito¿.