Título: QUEDA DOS JUROS FAZ RENDA FIXA CAPTAR QUASE QUATRO VEZES O INVESTIDO EM DI
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 24/04/2006, Economia, p. 18

No ano, categorias atraíram R$12,47 bi e R$3,379 bi, respectivamente

Os sucessivos cortes na taxa Selic ¿ na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) fez a sétima redução consecutiva dos juros ¿ fizeram os fundos de renda fixa captarem este ano quase quatro vezes o volume que os DI atraíram. Os fundos de renda fixa, que trazem ganhos ao investidor num cenário de queda de juros, atraíram R$12,47 bilhões em novos recursos no acumulado do ano até o dia 13 de abril, de acordo com o site Fortuna, que monitora a indústria de fundos. Já os fundos DI, que acompanham a oscilação da taxa Selic ¿ para cima ou para baixo ¿ captaram apenas R$3,379 bilhões.

Após a forte captação, analistas se dividem sobre o que fazer com os recursos. Para alguns, a renda fixa ainda tem potencial de valorização a longo prazo. Para outros, a maior parte dos ganhos ficou para trás e já é hora de começar a diversificar aplicações e destinar uma parcela dos recursos para fundos DI ou mesmo multimercado, considerados mais arriscados. Renato Ramos, diretor de Renda Fixa do HSBC Asset, está no primeiro grupo. Para ele, a perspectiva para os renda fixa ainda é favorável:

¿ Para os que não acreditam em mais cortes de juros, porém, talvez seja hora de aplicar parte dos recursos também em fundos DI.

Ganho do renda fixa agora está sujeito a mais risco

Carlos Cintra, gestor de Renda Fixa do Banco Prosper, diz que ainda há um ganho potencial nos fundos de renda fixa, mas apenas nos títulos de mais longo prazo:

¿ Fundos que aplicam nesses papéis tenderão a ter um desempenho melhor, pois ainda não refletem as projeções do mercado de novas quedas de juros. Mas é bom lembrar que quanto maior o prazo, maior o risco do fundo. Talvez por isso valha a pena diversificar agora com alguma aplicação em fundos DI, considerados menos arriscados ¿ esclarece Cintra.

Antônio Dupim, sócio da Modal Asset Management, lembra que fundos que aplicam em títulos de mais longo prazo costumam ter, com o maior risco, mais volatilidade nas cotas:

¿ O investidor precisa ficar atento. E, se é para correr riscos, uma dica é aplicar uma parcela dos recursos em fundos multimercado, que a longo prazo costumam render mais que os de renda fixa e DI.

Hélio Braz, diretor da Máxima Asset Management, lembra que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) avalia, junto com o mercado, a possibilidade de estabelecer limites para a participação de títulos privados ¿ como CDBs e debêntures ¿ na carteira dos fundos. Com isso, a rentabilidade de fundos como os DI tenderia a cair fortemente.

¿ Nos últimos meses, cresceu bastante a parcela aplicada em títulos privados dos fundos DI, já que hoje não existe um limite para essas aplicações. Como esses são papéis que rendem mais por oferecerem um risco maior que o dos títulos do governo, com a limitação, os fundos DI devem perder feio da renda fixa. Como os juros continuarão caindo, a renda fixa ainda ficará interessante. Uma outra sugestão para o investidor é diversificar as aplicações com fundos multimercado ¿ avalia Bráz.

A maior parte dos recursos captados este ano nos fundos de renda fixa ficou concentrada nos voltados para aplicadores de mais alta renda, que têm taxas de administrações mais baixas. Outra característica marcante foi a escolha dos investidores pelos fundos que aplicam em títulos do governo de prazo mais longo, devido ao benefício fiscal.

Segmento de alta renda é o que mais captou no ano

Desde 2005, os fundos passaram a ser divididos em curto e longo prazos. Quanto mais tempo o dinheiro ficar aplicado num fundo de longo prazo, menos IR o investidor pagará. Já aplicações a curto prazo ficam sujeitas ao pagamento de mais imposto.

Na Caixa Econômica Federal, por exemplo, que tem fundos com aplicação a partir de cem reais, os novos recursos foram aplicados num fundo com mínimo de R$200 mil, com perfil de longo prazo. O Caixa Fic Personal Renda Fixa Longo Prazo recebeu R$1,265 bilhão em novos recursos este ano. Em segundo lugar ficou o BB Renda Fixa Longo Prazo 200 mil, que atraiu R$835 milhões. Como o nome do fundo indica, a aplicação mínima é de R$200 mil.

¿ Os investidores claramente estão em busca do benefício fiscal, por isso boa parte da captação tem sido concentrada nos fundos de longo prazo. Essa é uma tendência que veio para ficar ¿ afirma Alessandro Toledo Cruzolini, gerente nacional de renda fixa da Caixa.