Título: CORREGEDORIA DEVE INVESTIGAR FARRA COM GASOLINA
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 25/04/2006, O País, p. 8

Presidente da Câmara pede apuração de denúncia de que deputados usam notas frias para receber verba extra

BRASÍLIA. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), encaminhou ontem para a Corregedoria a reportagem de domingo do GLOBO mostrando a farra de deputados com a verba indenizatória de R$15 mil mensais. A Corregedoria deve abrir sindicância e investigar a existência de uma indústria de notas frias usadas pelos deputados. Além do pedido de investigação na Corregedoria, Aldo vai discutir com a Mesa da Câmara, amanhã, o que fazer com a verba: seu fim, a mudança de destinação ou sua incorporação ao subsídio/salário, que, neste caso, pularia de R$12.840 para R$27.840 brutos.

Aldo disse que há na Mesa os que defendem a modificação da destinação e os que defendem a incorporação:

¿ A verba indenizatória foi criada por um ato da Mesa e é a instância que deve discutir o assunto. Vou tratar disso na reunião da quarta-feira.

Gastos mensais de até R$15 mil em combustível

Se a Corregedoria da Câmara levar a investigação adiante pelo menos meia centena de deputados que figuram entre os campeões de gastos podem ser processados se não comprovarem que queimam de fato, com sua atividade parlamentar, uma média de R$ 9 mil a R$15 mil em combustível por mês.

O deputado Francisco Rodrigues (PFL-RR), que semana passada confessou fazer uma ¿verdadeira alquimia¿ para transformar despesas sem notas em gastos com combustível, passou o dia ontem tentando se explicar. Primeiro passou a tarde trancado na liderança do PFL, já que o líder Rodrigo Maia (PFL-RJ) exigiu que ele se explicasse.

Rodrigues prometeu encaminhar uma defesa à Mesa da Câmara e à Corregedoria para alegar que não procede a informação dada pelo gerente do Posto Trevo, em Boa Vista, Cássio Gomes, de que o deputado abastece toda a frota, inclusive caminhões da sua empresa de terraplanagem, e no fim do mês pega uma nota fiscal de tudo. As notas do Posto Trevo podem ser ponto de partida para a investigação, se o pedido de informações de Aldo for aceito pelo corregedor Ciro Nogueira (PP-PI) ¿ ele mesmo um dos maiores gastadores, com uma média de gastos mensais de R$9 mil a R$12 mil de combustível. O corregedor não foi localizado ontem.

¿ Essa história dos caminhões está malcontada. O gerente já me ligou para negar que tenha dito aquilo. Eu irei comprovar, com minudências de detalhes, que gasto mesmo essa quantidade de combustível. Meu estado é enorme e a minha atividade parlamentar é intensa ¿ defendeu-se Rodrigues.

Aldo Rebelo explicou que a Mesa não pode destituir o corregedor Ciro Nogueira do comando das investigações, pois ele foi eleito para o cargo. Esclareceu ainda que não citou só o caso de Francisco Rodrigues em seu pedido, pois deverão ser investigados todos os parlamentares citados pelo GLOBO.

¿ Não existe outro órgão na Casa encarregado desse tipo de investigação. Ela pode ser feita pelo próprio corregedor. Ou (ele) nomear uma comissão de sindicância ¿ disse Aldo.

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