Título: PROMOTOR DENUNCIA 37 POR ATAQUE À ARACRUZ
Autor: Chico Oliveira
Fonte: O Globo, 25/04/2006, O País, p. 10

Coordenador do MST e quatro estrangeiros foram responsabilizados pela depredação do laboratório da empresa

PORTO ALEGRE. O promotor Daniel Soares Indrusiak responsabilizou ontem quatro estrangeiros e o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, pelo planejamento e pela organização do ataque e da depredação do laboratório e de viveiros da Aracruz Celulose em Barra do Ribeiro (RS), em 8 de março, envolvendo cerca de duas mil mulheres da Via Campesina. Foram denunciadas, ao todo, 37 pessoas. Os acusados, segundo Indrusiak, formaram uma quadrilha armada para fazer o ataque, utilizando recursos captados no país e no exterior, inclusive em órgãos públicos.

¿O denunciado João Pedro Stédile, em que pese não ter sido comprovada sua presença no local dos fatos, exerceu função decisiva no planejamento e na execução do crime, na medida que estimulou os demais denunciados à prática do delito, além de concorrer materialmente para a sua consecução¿, escreveu o promotor.

Já os estrangeiros, segundo Indrusiak, estavam presentes. Uma jornalista suíça chegou a comunicar ao motorista dos ônibus que levou as mulheres que ele estava seqüestrado e, sob a ameaça de armas, deveria atender às ordens que lhe seriam dadas. Ela participou da ação juntamente com Irma Ostroski, do Movimento das Mulheres Camponesas. No início dos anos 90, Irma estava no grupo responsável pela degola em Porto Alegre de um policial militar no início dos anos 90, durante manifestação de sem-terra.

Denunciados vão responder também por seqüestro

Os outros estrangeiros envolvidos são o inglês Paul Nicholson, da União Nacional dos Camponeses do País Basco; o indonésio Henry Saragih, da União dos Camponeses da Indonésia; e a dominicana Juana Ferrer, da Confederação Nacional das Mulheres Camponesas da República Dominicana.

¿As acusadas Corinne Dobler (a jornalista suíça), Adriana Mezadri, Noemi Krefta e Irma Ostroski abordaram a vítima Manoel de Oliveira Martins, que as conduzia no ônibus de placa KOG-3710, da empresa Biatur Transportes Ltda., já em direção ao município de Barra do Ribeiro, anunciando que, a partir daquele momento, estava seqüestrado, devendo seguir as ordens que lhe fossem dadas, permanecendo sob vigilância constante, para o seu próprio bem¿, destacou o promotor na denúncia.

Além da destruição do horto florestal da Aracruz Celulose, os denunciados também foram responsabilizados pelo roubo do HD retirado de um dos computadores da empresa e pelo seqüestro e privação de liberdade de dois seguranças.

¿As vítimas permaneceram seqüestradas por cerca de uma hora¿, afirmou Indrusiak.

O grupo que planejou e comandou o vandalismo, acrescentou ele, planejava a ação pelo menos desde dezembro de 2005, conforme documentação apreendida por ordem judicial em uma casa de Passo Fundo, que serve de sede para o Movimento das Mulheres Camponesas, Associação das Mulheres Trabalhadoras Rurais da Região Sul e Associação das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Rio Grande do Sul.

¿Os documentos apreendidos em poder dos denunciados dão conta de estrutura funcional extremamente organizada, constituída e mantida de forma estável, de modo a possibilitar, tanto quanto fosse vontade dos acusados, a realização de novas empreitadas criminosas em outros municípios ou regiões¿, escreveu o promotor.