Título: POLÍTICA LEVA À DEMISSÃO NA BR
Autor: Flávia Oliveira e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 25/04/2006, Economia, p. 21

À frente da distribuidora desde 2003, Landim deve assumir diretoria no Pão de Açúcar

Apressão política do governo na gestão das estatais pode estar por trás da saída de Luiz Rodolfo Landim Machado da presidência da BR Distribuidora. Ele estaria trocando o setor público para, segundo informações do mercado, tornar-se diretor-executivo da área de não-alimentos do Grupo Pão de Açúcar ¿ que tem o controle dividido entre o empresário Abílio Diniz e a rede francesa Casino. Funcionário de carreira da Petrobras, ele assumiu o comando do braço da estatal na distribuição de derivados de petróleo em fevereiro de 2003, no início do mandato do presidente Lula. Trinta e oito meses depois, pediu demissão, conforme publicou o jornalista Ancelmo Góis em sua coluna de ontem, no GLOBO.

Indicado presidente da BR pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, hoje titular da Casa Civil, o executivo estaria se desligando da empresa em razão de uma briga política do PT por espaço na Petrobras. Segundo fontes da empresa, desde que assumiu o comando da estatal, José Sérgio Gabrielli tem batido de frente com Landim. Este teria perdido para Gabrielli a presidência da holding, após a saída de José Eduardo Dutra, em 2005. Gabrielli é filiado ao PT e chegou a aparecer no programa político do partido na TV.

Sem filiação partidária, Landim está na Petrobras há 26 anos. Cursou engenharia do petróleo na estatal e se pós-graduou na mesma área pela Universidade de Alberta, no Canadá. Também fez administração de negócios na Universidade de Harvard, nos EUA. Foi gerente-geral de Exploração e Produção na Bacia de Campos e superintendente regional Sul-Sudeste da Petrobras. Presidiu a subsidiária Gaspetro e foi diretor-gerente de Gás Natural da Petrobras. Em março de 2000, assumiu a coordenação do Plano Emergencial da Baía de Guanabara, no maior acidente ambiental da companhia.

Executivo é contra a ajuda à Varig

Divergências sobre os gastos publicitários da BR Distribuidora e a difícil negociação do contrato de venda de querosene de aviação com a Varig também teriam contribuído para a saída de Landim. O executivo era radicalmente contrário a qualquer ajuda à companhia aérea. A Varig, por sua vez, reivindicava o fornecimento de combustível por 90 dias com pagamento prorrogado.

O contrato da Varig com a BR expirou em dezembro do ano passado. As tentativas de renovação foram frustradas porque a companhia aérea não tinha garantias para oferecer à distribuidora no caso do não pagamento do combustível. Assim, desde então, o fornecimento só é feito à vista. Segundo a BR, três meses de combustível para a Varig somariam uma dívida de R$240 milhões, quantia suficiente para manchar de vermelho os resultados da distribuidora no caso de um calote. Com a saída de Landim, especula-se que Gabrielli poderia influenciar na indicação para a BR de um nome que beneficiaria a Varig.

¿ Não posso conceder um financiamento desse porte para uma empresa que não me oferece garantia. A BR tem acionistas e posso ser acusado de gestão temerária ¿ disse Landim ao GLOBO numa entrevista no dia 14 deste mês.

No mercado também circula a informação de que, em razão da corrida eleitoral, a BR estaria sendo pressionada a produzir peças publicitárias afinadas com a campanha da Petrobras em comemoração à auto-suficiência na produção de petróleo. O anúncio consumiu gastos de R$36 milhões da estatal, cifra próxima ao que a BR destina por ano à publicidade. Nas próximas semanas, a empresa lançará uma campanha que vai sortear combustível grátis para sempre entre os clientes.

Por toda a tarde de ontem, esperou-se a oficialização da saída de Landim por meio de uma nota que a BR terminou não divulgando. Mas a engenheira de perfuração Maria das Graças Silva Foster ¿ secretária de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia na época de Dilma e hoje presidente da Petroquisa, outra subsidiária da Petrobras ¿ já é apontada como provável sucessora de Landim. Como ele, Maria das Graças trabalha na Petrobras há 25 anos. Novamente, a indicação caberia à ministra, que preside os conselhos de administração da Petrobras e da BR.

O Pão de Açúcar não confirma a contratação de Landim para a nova diretoria, anunciada semanas atrás por Diniz e Cássio Casseb, diretor-presidente do grupo desde o início do ano. O executivo também não se pronunciou porque espera o anúncio oficial pelo empregador, mas comenta-se que ele assumirá a função em 2 de maio. A assessoria de imprensa do Pão de Açúcar só informa que ¿o nome do novo diretor, provavelmente, será conhecido esta semana¿.

¿ Abílio (Diniz) e (Cássio) Casseb informaram ao mercado numa conference call que o Pão de Açúcar está buscando um diretor-executivo para área de não-alimentos. É uma função que está sendo criada para cuidar dos setores de bazar, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, têxteis, postos de combustíveis e drogarias. Sabemos que Landim é um dos candidatos à vaga ¿ disse uma fonte do Pão de Açúcar.