Título: EVO MORALES AMEAÇA EXPULSAR DA BOLÍVIA EMPRESA SIDERÚRGICA BRASILEIRA
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Fonte: O Globo, 25/04/2006, Economia, p. 27

Presidente boliviano afirma que EBX está instalada ilegalmente no país

LA PAZ. O presidente boliviano, Evo Morales, ameaçou ontem expulsar a siderúrgica brasileira EBX se esta não deixar a Bolívia voluntariamente. A empresa é acusada de ter iniciado a construção de uma fábrica de aço na cidade de Puerto Suárez, perto da fronteira com o Brasil, sem autorização do governo boliviano. Morales afirmou também não poder acreditar que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ¿defenda empresas que não cumprem as leis¿.

¿ A EBX quer chantagear (o governo) e isso não é possível. É uma empresa ilegal que tem duas opções: ou se retira voluntariamente ou a expulsamos ¿ disse Morales. ¿ Não posso acreditar que o presidente Lula e o embaixador do Brasil (em La Paz) defendam empresas que não respeitam as leis nem a constituição.

A EBX também está sendo investigada pela Procuradoria Geral da Bolívia por supostamente ter insuflado um protesto semana passada, que bloqueou estradas e culminou com o seqüestro, por 13 horas, de três ministros de Morales. A população local apóia a empresa, que prometeu 620 empregos na região.

Governo negou autorização ambiental para siderúrgica

Segundo o governo boliviano, a EBX ¿ do empresário Eike Batista ¿ só solicitou autorização para operar depois de ter começado a construir suas instalações. Além disso, o governo explica que a empresa violou uma disposição constitucional que proíbe que companhias estrangeiras se instalem a menos de 50 quilômetros da fronteira.

¿ Antes se instalavam empresas com churrascos e subornos, mas agora é preciso respeitar as regras ¿ disse o presidente boliviano.

A Direção Nacional de Meio Ambiente afirmou que a usina de Puerto Suárez utilizaria uma tecnologia obsoleta, com base no carvão vegetal, ao mesmo tempo em que se beneficiaria do gás natural boliviano subvencionado em uma termelétrica em território brasileiro. Além disso, a organização negou licença ambiental à empresa porque o processamento de 450 mil toneladas de carvão vegetal por ano resultará na derrubada de 250 mil hectares de florestas.

Semana passada, a EBX disse em nota que ¿não causou dano ao meio ambiente¿ porque está ainda na fase de organização e construção. A empresa também alegou não ter tido oportunidade de discutir seu projeto com as autoridades bolivianas. Ela assegurou que sua presença na Bolívia não é ilegal e que está à espera de ¿um diálogo franco e amigável com o governo¿.

Ontem, Morales pediu paciência aos setores políticos e sindicais que exigem a reestatização do setor petrolífero e disse que o governo está ¿muito avançado¿ nesse projeto. A nacionalização das reservas de gás natural se basearão no exercício pleno do direito de propriedade do Estado boliviano sobre esses produtos, disse o presidente.