Título: PARA CHINA, DÉFICIT DOS EUA É MENOR
Autor: Gilberto Sofield Jr.
Fonte: O Globo, 25/04/2006, Economia, p. 27

País diz que americanos não consideram remessas de lucros e `royalties¿

PEQUIM. A China decidiu contra-atacar na guerra de informações produzidas pelos EUA, que culpam as exportações chinesas ¿ conseqüência do câmbio artificialmente desvalorizado ¿ pelo déficit comercial recorde do país. Segundo entrevista do economista Li Deshui, ex-diretor da Agência Nacional de Estatísticas da China, à agência de notícias Xinhua, o déficit com a China é bem menor que os US$200 bilhões alcançados ano passado se dele forem abatidos as reexportações de empresas americanas a partir da China, os lucros remetidos de volta às matrizes, o pagamento de patentes e royalties, e até o lucro com a venda formal de produtos culturais americanos em solo chinês ¿ como filmes, CDs e shows de artistas americanos ¿ não contabilizados como exportação.

¿ É impossível para as autoridades americanas contabilizarem uma compra de filme americano pela China como exportação ¿ reclamou Li. ¿ Estatísticas das Nações Unidas mostram que as empresas americanas instaladas no exterior faturaram US$3,3 trilhões em 2004, muito mais que as exportações do país.

Recentemente, a China decidiu divulgar um estudo da OMC mostrando que por trás do desempenho imbatível da máquina exportadora chinesa estaria uma indústria composta, na sua maioria, de fábricas de multinacionais (especialmente de Japão, Taiwan e Coréia do Sul), cuja montagem final dos produtos ocorre em solo chinês.

Comércio da China ocupou lugar de demais asiáticos

São brinquedos, aparelhos eletrônicos, celulares e computadores que vão parar no mundo com o selo ¿Made in China¿, mas cujos componentes tecnologicamente mais avançados são feitos em outros países e apenas montados na China.

¿ Há uma evidente queda nas exportações asiáticas para EUA e Europa e, por outro lado, um aumento das vendas chinesas, o que mostra que os chineses estão substituindo outros países como fornecedor mundial. Mas esse é um raciocínio sofisticado, e acredito que as retaliações contra a China vão aumentar porque é mais fácil usá-la como bode expiatório ¿ diz Michael Pettis, professor de finanças internacionais da Universidade de Tsinghua.

Segundo o governo de Pequim, entre 60% e 80% das exportações chinesas, dependendo da cadeia produtiva, são feitos por empresas resultantes de investimentos estrangeiros na China, seja inteiramente multinacional, seja em parceria com indústrias chinesas.