Título: IRÃ AMEAÇA DEIXAR AGÊNCIA NUCLEAR
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Fonte: O Globo, 25/04/2006, O Mundo, p. 29

Presidente diz que pode romper acordo de não proliferação, sem medo de sofrer sanções

TEERÃ. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, fez ontem novos desafios à comunidade internacional: em tom de ameaça nuclear, disse que seu país poderá se retirar do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), argumentando que esta nada trouxe ao Irã em 30 anos. Afirmou ainda não acreditar que seu país venha a sofrer sanções do Conselho de Segurança da ONU e muito menos que seja atacado pelos Estados Unidos.

Ahmadinejad também disparou sua metralhadora giratória contra Israel. Além de culpar a Europa pela criação do Estado judeu, voltou a defender o fim de Israel:

¿ Logicamente esse regime falso não pode continuar a existir ¿ disse.

Em reação, o primeiro-ministro de Defesa israelense, Shaul Mofaz, disse que o programa nuclear iraniano é a maior ameaça enfrentada pelos judeus desde o Holocausto:

¿ De todas as ameaças que enfrentamos, o Irã é a maior. O mundo não pode esperar. Precisa fazer tudo o que for necessário no nível diplomático para pôr fim a sua atividade nuclear. Desde Hitler não enfrentamos uma ameaça como essa.

Rússia reafirma oposição a programa nuclear iraniano

As declarações bombásticas de Ahmadinejad foram dadas numa rara entrevista coletiva concedida por ele. Quando lhe perguntaram sobre a ameaça do Ocidente de impor sanções para conter a ambição nuclear do Irã, o presidente respondeu:

¿ Acho muito pouco provável que eles sejam estúpidos de fazer isso. Acho que até mesmo os dois ou três países que se opõem a nós são inteligentes o suficiente para não cometerem um erro grande como esse. Aqueles que estão falando em sanções sofreriam mais danos.

Perguntado sobre a possibilidade de o Irã sofrer ataques militares, Ahmadinejad pareceu dar pouca importância:

¿ Ataques militares? Sob que pretexto?

E acrescentou que o Irã é forte o suficiente para se defender.

Sobre o risco de sanções, comentou:

¿ Os que falam de sanções serão os mais prejudicados. Mas nada em particular acontecerá, não se preocupem.

No dia 11 passado, o Irã anunciou que estava produzindo urânio enriquecido, combustível de armas nucleares. Em reação, o Conselho exigiu que interrompa a atividade, dando à AIEA um prazo até sexta-feira para que apresente um relatório sobre as atividades nucleares do Irã.

Diplomatas ocidentais disseram que inevitavelmente a AIEA vai constatar que o Irã está desafiando suas determinações. No Conselho, Rússia e China resistem a admitir sanções ao Irã, diferentemente dos outros três países que, como membros permanentes, têm direito a vetar qualquer decisão: EUA, França e Reino Unido. Mas a Rússia indicou ontem que se opõe categoricamente a que o Irã adquira conhecimento que lhe permita desenvolver armas nucleares.

O ministro de Defesa do Irã, Mostafa Mohammad-Najjar, pôs lenha na fogueira ao declarar ontem que qualquer ataque militar ao programa nuclear iraniano resultaria numa derrota humilhante para os EUA.