Título: REI DO NEPAL RESTAURA PARLAMENTO
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Fonte: O Globo, 25/04/2006, O Mundo, p. 29

Gyanendra volta atrás em medidas absolutistas para conter onda de protestos

KATMANDU. O rei Gyanendra foi ontem à TV anunciar que estava restituindo o Parlamento do Nepal, que ele próprio dissolvera em 2002. Gyanendra atendeu, assim, a uma das principais reivindicações de partidos políticos e manifestantes, que durante três semanas paralisaram o país com protestos diários que deixaram 14 mortos e mais de cem feridos.

O anúncio foi feito às 23h30m (hora local) de ontem, véspera de um protesto que segundo os opositores seria o maior da história do Nepal e dias depois de o rei abrir mão do poder absoluto, que detinha desde 2005. Logo após o pronunciamento, centenas de pessoas foram às ruas de Katmandu e outras cidades, no meio da noite, comemorar a vitória do movimento popular.

¿ Temos confiança de que o país avançará rumo a uma paz sustentável, ao progresso, a uma democracia plena e à unidade nacional ¿ disse o monarca que, num contraste com o habitual tom autoritário, pela primeira vez manifestou pesar pelos mortos nas manifestações.

Primeira sessão deverá ser na sexta-feira

Foram 19 dias de protestos, que chegaram a reunir milhares de pessoas. Na sexta-feira, o rei ofereceu entregar o Poder Executivo a um novo premier indicado pela oposição, mas a aliança de sete partidos que lidera as manifestações respondeu que a medida não era o bastante. Com o trono em risco e o país à beira do caos, Gyanendra foi ontem à TV.

¿ Restabelecemos a câmara de representantes que foi dissolvida em 22 de maio de 2002 ¿ disse o rei, convocando a primeira sessão para sexta-feira. ¿ Pedimos à aliança de sete partidos que assuma a responsabilidade de levar a nação ao caminho da união e da prosperidade, garantindo a paz permanente e a democracia multipartidária.

Com a medida, Gyanendra restaura a câmara baixa, enquanto a câmara alta é apenas simbólica. O rei, no entanto, não fez qualquer menção explícita à convocação de eleições para a Assembléia Constituinte ¿ outra exigência da oposição e da guerrilha maoísta, que controla vastas áreas do país.

Arjun Narsingh, líder do Congresso nepalês, o principal partido do país, disse que a aliança responderá oficialmente hoje, mas comemorou o anúncio.

¿ É a vitória do movimento popular.

Horas antes, os confrontos com a polícia haviam se repetido nas ruas de Katmandu. Fontes revelaram que diplomatas estrangeiros haviam se reunido com o rei, aconselhando-o a ceder às exigências da oposição e se desculpar pelas mortes.

A principal dúvida agora é qual será a resposta da guerrilha. Na noite anterior, centenas de rebeldes haviam atacado bases das forças de segurança e prédios do governo na localidade de Chautara, com o tiroteio se prolongando até a manhã de ontem. Cinco guerrilheiros e um soldado morreram.

Os rebeldes destruíram uma antena de transmissão, cortando as comunicações com o povoado, e atacaram uma base do Exército, um posto policial, o escritório de administração distrital e a cadeia.