Título: `Ele trouxe uns papéis para eu assinar e disse para esperar¿
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Fonte: O Globo, 26/04/2006, O País, p. 5

Ex-motorista de 61 anos que figura como sócio da Virtual Line admite ser laranja

Ex-motorista de táxi e de caminhão de mudanças, vítima de um derrame que o obriga a andar de muletas há quatro anos para contornar as seqüelas físicas e morador de aluguel (R$400 por mês) de um apartamento num modesto prédio de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. É esse o perfil de Irenio Dias, de 61 anos, que consta como sócio da Virtual Line Projetos e Consultoria de Informática, empresa que teria doado R$50 mil de um total de R$650 mil para a pré-campanha do ex-governador Anthony Garotinho.

Irenio, que admite ser laranja, passou a figurar como sócio da empresa, juntamente com Luiz Antônio Motta Roncoli, em 5 de abril deste ano, mesmo dia em que José Onésio Rodrigues Ferreira, condenado por assalto a mão armada, e sua ex-mulher, a depiladora Sarajane Aparecida Luz Costa, moradora do morro do Tuiuti, deixaram a sociedade da Virtual Line, fundada em 26 de janeiro de 2005.

¿Pensei que eles iam me dar um emprego de telefonista¿

O ex-motorista de caminhão conta que um amigo, do qual se recusa a dizer o nome, o procurou há dois meses dizendo que tinha um bom negócio que poderia ¿render bons frutos no futuro¿. Irenio sabia apenas que era uma empresa da área de informática, assunto que ele não domina, de endereço que desconhece. A orientação era para que esperasse que alguém o contactaria para começar a trabalhar. Mas ninguém o fez até agora.

¿ Fiquei animado quando meu amigo me falou que eu teria 2% numa empresa que daria bons frutos no futuro. Ele trouxe aqui uns papéis para assinar e disse para esperar que me chamariam para trabalhar. Estou esperando até agora. Pensei que eles iam me dar um emprego de atendente de balcão ou telefonista. Mas nem me deram o endereço ¿ disse o ex-motorista, que afirma só ter tomado conhecimento da doação em dinheiro a Garotinho por meio da reportagem do GLOBO, e que até hoje não recebeu e nem desembolsou dinheiro em nome da Virtual.

Ex-motorista diz que está muito assustado

Irenio Dias aparece como sócio da Virtual Line com capital de R$2 mil e Luiz Antônio Motta Roncoli, sócio-gerente, com R$38 mil. Irenio, no entanto, garante que nunca ouviu falar sequer no nome de Roncoli, e não conhece também Onésio e Sarajane, que seriam os fundadores da Virtual e, teoricamente, teriam que aparecer como vendedoras da empresa para Irenio. Roncoli deu entrevista ao GLOBO no domingo apresentado pelo PMDB como o dono da Virtual.

O ex-motorista admitiu estar assustado com a situação e tentou argumentar que não tem qualquer envolvimento com a formação da empresa.

¿ Eu não tenho nada e alguém chega para mim e oferece 2% de uma empresa. Isso é muito na vida de quem sequer conseguiu a aposentadoria até hoje. Mas eu não sou nada. Por que vocês não vão atrás desse grandão aqui? ¿ perguntou, apontando para o nome de Luiz Antônio Mota Roncoli.

¿ Estamos num ano político. Ninguém vai consertar isso. Sai um, entra outro ¿ afirmou, acrescentando que vai tentar achar o amigo que o pôs no que chamou de enrascada para tentar se livrar da confusão. (Leila Youssef)