Título: Sócio que é assaltante foi preso no dia da doação
Autor:
Fonte: O Globo, 26/04/2006, O País, p. 8

`Ele foi o que a gente costuma chamar de boi de piranha¿, diz o advogado de José Onésio, que cumpre pena

Um dos doadores da pré-campanha do ex-governador Anthony Garotinho à Presidência da República, José Onésio Rodrigues Ferreira, foi preso no mesmo dia em que fez a doação de R$50 mil. Em 17 de fevereiro deste ano, José Onésio, que figura como sócio da empresa Virtual Line, estava trabalhando na banca de jornal que arrendava em São Cristóvão quando foi levado por policiais da Draco (Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas). Acusado de assalto à mão armada e condenado a cinco anos e seis meses, estava foragido da Justiça desde 1992.

A história de Onésio,cuja prisão foi relatada em reportagem da ¿Folha de S.Paulo¿, foi contada em detalhes ontem pelo advogado, Pedro de Alcântara Moreira, que afirma que seu cliente foi usado como laranja.

¿ Ele foi o que a gente costuma chamar de boi de piranha. Qualquer pessoa que conversar com ele vai ver que é uma pessoa muito simples, não tem a menor condição de ter feito uma doação dessa. E o mais incrível é que no dia em que a empresa supostamente fazia a doação ele foi preso ¿ disse o advogado, que estava revoltado.¿ Em tese, a Constituição garante o direito da ampla defesa a qualquer cidadão, mas no caso dele, que está preso, as coisas não são bem assim.

¿Vaquinha¿ para pagar advogado

José Onésio foi condenado por assalto em 30 de março de 1992. Primeiramente, a cinco anos e seis meses de prisão em regime fechado. Depois, de acordo com o Tribunal de Justiça do Rio, recorreu e conseguiu reformar a pena para cinco anos e quatro meses em regime semi-aberto. Mas, de acordo com seu advogado, nunca foi procurado pela polícia em sua casa, de onde nunca teria saído. No momento, Moreira tenta um hábeas-corpus para José Onésio na 7ª Câmara Criminal, alegando que o Código Penal prevê a prescrição do crime em 12 anos se a pena for de quatro a oito anos. Ele é acusado de ter assaltado, com um cúmplice, um apartamento no Leblon.

O Departamento do Sistema Penitenciário do Rio (Desipe) informou ontem que José Onésio está na Casa de Custódia Jorge Santana, no Complexo de Bangu, em regime fechado provisório por causa da pendência judicial. Ainda segundo o Desipe, ele é um ¿preso de bom comportamento¿.

O advogado Pedro de Alcântara Moreira afirmou que seu cliente jamais teria condições financeiras de fazer a doação porque até para pagar seus honorários a família precisou se cotizar e vender alguns bens.

A ex-mulher de José Onésio, Sarajane Aparecida Luz Costa, não foi encontrada, mas amigos disseram que ela está muito assustada. Ela teria dito que entrou como sócia na Virtual Line através de intermediários, um deles um homem identificado como Walter, o Peti, e o próprio pai dela, Iran Luz Costa.

Ontem, a Virtual Line Projetos e Consultoria de Informática Ltda divulgou uma nota informando que, em 1º de agosto de 2005, o atual diretor-presidente da empresa, Luiz Antônio Motta Roncoli, adquiriu 50% das cotas que foram compradas de Sarajane Aparecida Luz Costa, ex-mulher de José Onésio. Na mesma data, o capital social da empresa foi, ainda de acordo com Roncoli, elevado de R$4 mil para R$40 mil. Na ocasião, ele afirma que investiu ainda mais R$36 mil, tornando-se sócio majoritário com 95% das cotas.

Roncoli afirmou ainda que, em março deste ano, José Onésio deixou a empresa, assumindo em seu lugar Irenio Dias. Não é o que consta na Junta Comercial do Rio: nos documentos arquivados, a data de saída de José Onésio é 5 de abril deste ano. Irenio Dias, localizado ontem pelo GLOBO, trabalhava, até ter um derrame, fazendo frete de mudanças.

Roncoli se defendeu afirmando que não conhecia José Onésio e Sarajane. O processo da empresa ¿coube única e exclusivamente ao meu contador¿, disse ele na nota.

O contador, Renato Ferreira Alves, admitiu ser o responsável, mas disse não saber que José Onésio era condenado por assalto:

¿ Fui apresentado aos dois por meio de um cliente e desconhecia a condenação de José Onésio. (Carla Rocha, Leila Youssef e Maiá Menezes).