Título: MENTOR AGORA RESPONDERÁ POR PROPINA A DOLEIRO
Autor: Gerson Camarotti e Flávio freire
Fonte: O Globo, 26/04/2006, O País, p. 11

Corregedoria vai investigar denúncia do MP contra deputado petista absolvido no escândalo do mensalão

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A Corregedoria da Câmara dos Deputados abriu ontem investigação sobre a denúncia feita ao Ministério Público de São Paulo pelo doleiro Richard Andrew de Mol van Otterloo, que diz ter pagado R$300 mil ao deputado José Mentor (PT-SP) para evitar que ele incluísse seu nome no relatório final da CPI do Banestado, da qual Mentor era relator. Na semana passada, o deputado escapou por 16 votos de ter o mandato cassado sob a acusação de ter recebido R$120 mil do valerioduto, mas pode sofrer novo processo de cassação, caso a Corregedoria encaminhe a denúncia ao Conselho de Ética.

O corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), notificou o petista, que terá prazo de cinco sessões para a defesa. Só depois Nogueira vai decidir sobre a sindicância, mas considerou a denúncia gravíssima:

¿ Vamos dar direito de defesa ao deputado Mentor. Se o caso for consistente abriremos sindicância. A cobrança de propina por um deputado é caso de cassação. Mas a denúncia tem que ser comprovada.

A representação da Promotoria de Justiça da Cidadania de São Paulo com o depoimento do doleiro foi encaminhada ontem pela presidência da Câmara à Corregedoria. A denúncia contra Mentor é por suposta participação em crime de extorsão e corrupção ativa. A representação chegou à Câmara em 19 de abril, dia em que foi votado o pedido de sua cassação.

Otterloo foi ouvido pelo Ministério Público em 4 de abril. Ele disse que, por orientação de Flávio Maluf, filho do ex-prefeito, procurou uma pessoa ligada ao gabinete de Mentor e entregou o dinheiro a ela. ¿Flávio Maluf queria evitar que suas contas aparecessem nas investigações da CPI do Banestado¿, disse o doleiro aos promotores. Otterloo foi excluído do relatório da CPI.

Otterloo será ouvido nos próximos dias pelo Ministério Público. Ele não disse aos promotores o nome da pessoa a quem entregou o dinheiro. Para os promotores Sílvio Marques e Rodrigo de Grandis, que investigam contas em nomes dos Maluf no exterior, a ligação dele com os Maluf foi comprovada por documentos recebidos da Promotoria de Nova York com movimentação de altas quantias da conta Chanani, em nome de Paulo Maluf, no Banco Safra, para a conta Jazz, no MTB Bank, operada por Otterloo. Os extratos estão com os promotores.

Mentor: ¿Não protegi ninguém na CPI¿

Otterloo poderá usufruir dos benefícios da delação premiada, como perdão judicial ou redução da pena. Ele foi condenado a seis anos de prisão por lavagem de dinheiro, mas obteve no Supremo Tribunal Federal (STF) hábeas-corpus que lhe permite responder em liberdade.

Mentor negou as acusações:

¿ Não protegi ninguém na CPI do Banestado. E também não recebi qualquer valor para proteger ninguém. Também não conheço esse doleiro (Otterloo). Mas posso afirmar que a CPI quebrou o sigilo dele e de suas empresas ¿ disse Mentor, que desconfia que alguém tenha tentado, com a denúncia, influenciar a votação de sua cassação. ¿ Essa pode ter sido a intenção de quem mandou a denúncia.

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