Título: BUSH USA RESERVAS CONTRA A ALTA DO COMBUSTÍVEL
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Fonte: O Globo, 26/04/2006, Economia, p. 23

Plano ainda prevê relaxamento de normas ambientais e revogação de isenções de impostos para petrolíferas

WASHINGTON. Com o barril do petróleo no patamar dos US$70, a gasolina nas bombas americanas já atingiu recordes, passando de US$3 por galão (de 3,78 litros). Para acalmar os eleitores, o presidente George W. Bush anunciou ontem, na Associação dos Combustíveis Renováveis, seu plano para controlar os preços: a liberação das reservas estratégicas de petróleo, o afrouxamento de normas ambientais e o estímulo a combustíveis alternativos, como o etanol. A oposição, porém, está de olho nos lucros que as petrolíferas devem anunciar esta semana ¿ espera-se alta de 19% ¿ e afirma que o plano de Bush não vai resolver o problema a curto prazo.

A principal medida é a liberação das reservas. Até o fim do verão no Hemisfério Norte, em setembro ¿ época de gasto maior ¿ o governo americano não vai recolher petróleo.

¿ Nossa reserva estratégica é suficientemente grande para nos protegermos de qualquer desequilíbrio de fornecimento significativo nos próximos meses ¿ disse Bush. ¿ Ao adiarmos os depósitos até o outono (no Hemisfério Norte), deixaremos um pouco mais de petróleo no mercado.

Para especialista, medida é `uma gota em um balde¿

Em maio deveriam ser recolhidos às reservas 2,1 milhões de barris, que abasteceriam cerca de duas horas da média de 21 milhões de barris de petróleo consumidos diariamente nos EUA.

¿ Qualquer pouquinho ajuda ¿ afirmou o presidente.

Mas Mark Williams, professor da Universidade de Boston e especialista em energia, classificou a medida como meramente política e ¿uma gota em um balde de petróleo¿.

Já o relaxamento das normas ambientais ¿ que prevêem a mudança na mistura da gasolina para reduzir a poluição ¿ foi criticado até por representantes da indústria petrolífera. Bob Slaughter, diretor da Associação Nacional de Petroquímicas e Refinarias, disse à Bloomberg News que não há prova de que isso vai funcionar. Bush também defende que a reserva ambiental do Alasca seja aberta à exploração.

Senador: Bush parou de falar como executivo do petróleo

O presidente dos EUA também criticou o fato de as petrolíferas registrarem lucros elevados enquanto investem pouco em seu próprio negócio. Nenhuma refinaria foi construída nos EUA nos últimos 30 anos. Mas a Exxon, por exemplo, lucrou US$36 bilhões ano passado e recentemente premiou seu ex-diretor-executivo Lee Raymond com um pacote de aposentadoria de US$400 milhões.

Bush pediu que o Congresso revogue cerca de US$2 bilhões em isenções de impostos nos próximos dez anos. O problema é que parte dessas isenções contemplava a pesquisa de petróleo em águas profundas ¿ portanto, um investimento a longo prazo. Ainda assim, a proposta agradou a oposição:

¿ Por um momento, Bush parou de falar como um executivo do petróleo ¿ disse o senador John Kerry, candidato derrotado à Presidência nas últimas eleições.

Há quem sustente que os altos preços da gasolina são fruto da cultura dos americanos, que privilegia os carros. Semana passada, falando sobre petróleo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, criticou o individualismo dos EUA, onde, afirmou, ¿80% dos carros levam apenas um passageiro¿.